26/04/2013 - 21:00
O senador Blairo Maggi e o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja), Glauber Silveira, tiveram de engolir em seco quando o executivo Cheng Muping, da estatal chinesa Cofco, relatou seu desconforto com os atrasos persistentes na entrega de soja brasileira neste ano. Em reunião na cidade de Pequim, há duas semanas, Muping explicou à dupla que o nó logístico brasileiro atravessou os sete mares e provocou uma paralisação da fábrica de esmagamento da Cofco, uma das maiores comerciantes de grãos e óleos comestíveis da China, com faturamento de US$ 30 bilhões anuais. “Vocês precisam investir urgentemente nos portos, pois nossa demanda vai continuar crescendo”, cobrou o anfitrião chinês.
Na mesa oriental: a China depende da eficiência brasileira para alimentar 1,3 bilhão de pessoas
A visita ao executivo fez parte de uma maratona de encontros que Maggi e Silveira tiveram em Pequim com importadores de grãos brasileiros no país, entre os dias 15 e 20 deste mês. “Em todas as reuniões, ficou claro que a ineficiência de logística do Brasil é a principal preocupação da China para manter o País como seu principal fornecedor”, disse Silveira à DINHEIRO. “Eles não entendem por que o Brasil promete investimentos nos portos e eles não acontecem.” O assunto torna-se preocupante, depois que os chineses avisaram que cancelariam, pela segunda vez, um contrato de compra de soja brasileira devido aos atrasos nas entregas.
Em março, eles também anunciaram a suspensão da compra de dois milhões de toneladas. Não se conhece ainda o limite da paciência dos chineses com os problemas brasileiros, mas não é preciso entender mandarim para concluir que o mundo dos negócios não tolera desperdício de lucros. Para salvar o comércio exterior, o governo federal estendeu o horário de funcionamento dos órgãos de apoio à exportação, como a Receita Federal e a Anvisa, que passaram a funcionar 24 horas, em período de teste, desde a semana passada. Falta, agora, dar celeridade às obras das rodovias de acesso a esses portos.
Glauber Silveira, presidente da Aprosoja: ”Os chineses não entendem
por que o Brasil promete investimentos e eles não acontecem”
Na semana passada, voltaram os congestionamentos até o terminal de Santos. E o cenário é de bastante preocupação entre os produtores, pois nos próximos meses começa uma safra recorde de milho, na sequência dos embarques da soja e de açúcar (leia quadro abaixo). “Em anos anteriores, o pico da safra de grãos se dava em maio e depois acalmava”, afirma Marcos Jank, presidente da consultoria Agroconsult, de São Paulo. “Neste ano, teremos alta até julho.” Até lá, o governo conta com a conclusão da obra do viaduto da avenida Perimetral, no município do Guarujá, que promete facilitar o acesso dos caminhões ao porto.
Há outras obras, ainda, que precisam ser entregues neste ano, como a rodovia 163, que liga Mato Grosso ao Pará e ajudaria a desafogar o terminal paulista. Para o longo prazo, houve um alento, na semana passada, com a aprovação da MP dos Portos na Comissão mista da Câmara, embora tenha sido alterada pelos parlamentares. Os deputados incluíram um prazo de 25 anos para novas concessões e renovação automática dos contratos firmados antes de 1993. Os dois pontos devem ser vetados pelo Planalto, o que significa atrasar um pouco os investimentos na logística portuária e testar um pouco mais a paciência chinesa com o ritmo brasileiro…