01/12/2010 - 21:00
Fazer dinheiro com a venda de recursos naturais não é novidade para a Rússia. A combalida economia do país se sustenta com o comércio de commodities, como petróleo e minerais.
Mas, de uns tempos para cá, a população pobre encontrou uma nova e não menos valiosa fonte de riqueza natural: os cabelos louros. Mulheres jovens, de baixa renda, vendem suas madeixas para o exterior ou para os elegantes salões de beleza da capital.
Esse tipo de comércio pouco convencional desperta a cobiça de pequenos compradores, que garimpam o produto e o repassam às indústrias de beneficiamento. Pagam a partir de US$ 50 por trança de, no mínimo, 40 centímetros.
Jovem russa em Moscou: só nos EUA comércio de cabelos movimenta US$ 250 milhões
Apesar da recente melhoria nas condições de vida, 14% dos russos vivem abaixo da linha da pobreza. Em Mosalsk, a 300 quilômetros de Moscou, funciona uma das maiores fábricas de beneficiamento de cabelo natural do país.
Na Belli Capelli, fios dourados chegam de diferentes partes da Rússia para serem lavados, tingidos, separados por comprimento e coloração e vendidos para os endinheirados. Os cabelos naturalmente claros valem ouro na indústria mundial de beleza, por serem raros e mais fáceis de tingir que os escuros.
Não é de hoje que o comércio de pelos humanos se tornou um negócio bilionário. Só nos EUA, o ímpeto feminino de alongar madeixas ou encorpar a franja gira por ano US$ 250 milhões, segundo o The New York Times.
“Cabelo comprido está na moda aqui e lá fora“, diz Elza Pontes, cabeleireira de celebridades como Grazi Massafera. Mas a origem da matéria-prima ainda causa controvérsia. Grande parte do cabelo usado em todo o mundo vem de mulheres indianas que raspam a cabeça em rituais nos templos hindus. Sacrifício que é transformado em artigo de beleza.
O cabelo indiano também é o mais comum no Brasil. “Trazemos muito da Índia e da China. Estou tentando trazer da Rússia, da Ucrânia, mas o pouco que existe eles mandam para Nova York e Paris”, lamenta o importador Thomaz Frederico Aldred, que compra todo mês 1,5 tonelada do produto, beneficia e fornece para grandes salões do País. A procura este ano cresceu 20%, estima Aldred.
Segundo ele, os lances aumentaram e hoje quem consegue uma trança dourada pode cobrar quanto quiser. As técnicas também influenciam no preço do serviço, que parte de R$ 400 e chega a R$ 5 mil nos salões mais sofisticados.
De cada 100 clientes do badalado C. Kamura, em São Paulo, 15 fazem algum tipo de aplique de cabelo. A procura aumentou nos últimos anos por causa da diversificação das técnicas e das formas de aplicar o produto.
Hoje, além do alongamento, é possível aumentar o volume da franja ou consertar uma barbeiragem do profissional da tesoura. Os fios louros também saem, a gosto do cliente, mas ele tem que pagar 20% a mais e encomendar com antecedência.