Após vários meses de indecisão, o jovem comunicador escocês Johnny Cross, 22 anos, garante ter amadurecido o seu voto depois de ouvir os argumentos das campanhas feitas pelos grupos que defendem ou refutam a ideia de ver a Escócia independente do Reino Unido, que inclui, ainda, a Inglaterra, o País de Gales e a Irlanda do Norte. A menos de uma semana do referendo que decidirá a questão, na quinta-feira 18, Cross se bandeou para o lado dos apoiadores do “sim” por entender o caso como uma questão de oportunidade. “Quantos outros lugares no mundo adorariam ter a chance de se tornar independente, como a que nós estamos tendo?”, afirmou.

São jovens como ele que levaram a campanha do “sim” a figurar pela primeira vez na frente numa pesquisa sobre o referendo e, por tabela, derrubar a libra ao menor valor em dez meses. As ações dos bancos caíram 2% na Bolsa de Londres e as decisões de investimento das companhias com negócios no Reino Unido foram congeladas até que os votos sejam apurados. Um quadro que, segundo os especialistas, pode piorar caso os separatistas saiam vitoriosos das urnas. Ao todo, 56% dos jovens de até 24 anos defendem a independência.

No quadro geral, sem o recorte pela idade, os separatistas conquistaram 51% das intenções de voto, uma reviravolta na corrida pelo referendo, que antes mostrava a liderança tranquila do “não”. Especialistas locais atribuem a chama do sentimento nacionalista ao bom desempenho da campanha “Yes”, a favor da independência, que conquistou almas e mentes dos eleitores nas redes sociais nos últimos meses. Preocupados com esse avanço, representantes de peso de diferentes setores do Reino Unido promoveram uma força-tarefa para espalhar os ideais da campanha “Better Together” (algo como “Unidos somos melhores”).

Nomes tão variados como o do beatle Paul McCartney e da escritora J.K Rowling, autora do Harry Potter, engajaram-se na campanha, na tentativa de acalmar os ânimos dos empresários. Até mesmo o anúncio da segunda gravidez do casal real Kate e William, na segunda-feira 8, teria sido visto pela campanha do “não” como uma notícia que fortaleceria um sentimento de união no Reino Unido. A ajuda, diga-se, seria apenas simbólica, pois a rainha Elizabeth II continuaria sendo a chefe de Estado dos escoceses mesmo em caso de independência – e isso explica o silêncio real sobre o referendo.

O ministro das Finanças, George Osborne, prometeu, ao longo da semana passada, um pacote de medidas para garantir mais autonomia ao Parlamento escocês, órgão criado em 1999. A promessa, no entanto, foi vista pelos favoráveis à separação como uma tentativa desesperada de extinguir ou controlar a chama nacionalista. Na avaliação de Robert Wood, economista do Berenberg Bank, tradicional instituição da Europa, o próprio país sairia perdendo com a independência. “Haverá fuga de capital e um agravamento econômico em curto prazo para os escoceses”, disse o economista à DINHEIRO.

Temendo o resultado do referendo, alguns escoceses já começaram a transferir seus depósitos para bancos de Londres. O chefe do departamento de pesquisa da London School of Business and Finance, Steve Piddy, acredita que o primeiro impacto seria sentido por pequenos empresários, que passariam a receber menos incentivos governamentais. O petróleo, maior riqueza da Escócia, também é tema central na disputa. Com a independência, tratados fiscais deverão ser renegociados, o que poderá gerar mais burocracia e disputa em torno do preço a ser pago pelos demais países do Reino Unido pelo petróleo e gás escocês. Há dúvidas, ainda, se a Escócia autônoma poderia manter a libra como moeda.

“A união monetária nesse patamar é incompatível com a soberania”, afirmou Mark Carney, presidente do Bank of England, o banco central inglês. Diante de um cenário nebuloso até o resultado, o clima é de cautela entre os homens de negócios em geral. Caso a independência seja decretada, ela só poderá ser oficialmente concluída no início de 2016, o que daria mais tempo para que executivos e governantes tentassem colocar ordem na casa. Mesmo assim, os bancos Lloyds e RBS já deram indícios de que, se houver a separação, mudarão seus QGs para a Inglaterra, assim como a empresa de seguros Standard Life. Nesse caso, o “tiro” dos escoceses pode sair pela culatra.