20/03/2015 - 20:00
Ansiosas por eliminar a fama de lavanderia-geral da bandidagem, as autoridades financeiras da Suíça anunciaram, na quarta-feira 18, o bloqueio de US$ 400 milhões (R$ 1,3 bilhão) em ativos de pessoas e empresas investigadas na Operação Lava Jato. Desse total, US$ 120 milhões (R$ 390 milhões) serão reenviados ao Brasil, segundo informou o procurador-geral da Suíça, Michel Louber. Ele anunciou o repatriamento do dinheiro em Brasília, ao lado do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “Queremos evitar o uso do sistema financeiro suíço para fins criminosos”, disse Louber.
Não é o maior congelamento de ativos realizado pela Suíça – o ex-presidente egípcio Hosni Mubarak e membros de seu governo tiveram US$ 788 milhões retidos no início de 2011. No entanto, o bloqueio da Lava Jato supera os US$ 250 milhões confiscados do ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovych e de 19 membros do seu governo, em junho do ano passado. A apuração da Suíça é parte da maior investigação contra lavagem de dinheiro e corrupção já feita no Brasil. A Lava Jato tinha como alvo inicial apurar fraudes cometidas por doleiros, mas acabou revelando um esquema de corrupção bilionário em contratos da Petrobras, que deve superar R$ 2 bilhões.
A operação completou um ano na terça-feira 17 e ainda vai longe. Na véspera do aniversário, os procuradores deflagraram a décima fase de prisões, detendo Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras e ligado ao PT, pela segunda vez. A justificativa foram movimentações em contas no exterior. Convocado a depor na CPI da Petrobras na quinta-feira 19, Duque preferiu ficar calado. Ele apenas reafirmou sua inocência e lamentou a paralisação nas obras da estatal. Os procuradores também denunciaram João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, por suspeita de operar um esquema de recebimento de propinas mascaradas em doações legais ao partido. Vaccari nega as acusações.
Os jatos ainda vão movimentar muita água. Desde o início do caso, a força-tarefa de procuradores à frente do caso já investigou 485 suspeitos e propôs 20 ações criminais. No início deste mês, Teori Zavascki, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a investigação de 49 suspeitos com foro privilegiado a partir de uma lista elaborada por Janot. Entre eles, políticos de peso como Eduardo Cunha, presidente da Câmara, e Renan Calheiros, presidente do Senado, ambos do PMDB. Outro nome do alto escalão petista apareceu nas denúncias.
Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, o diretor da Engevix, Gerson Almada, admitiu ter contratado os serviços de José Dirceu. A consultoria do ex-ministro da Casa Civil serviu um grupo de empreiteiras, que pagaram R$ 29,3 milhões a Dirceu entre 2006 e 2013. Desse total, ao menos R$ 4 milhões foram pagos por construtoras listadas na Operação Lava Jato. Os procuradores tentam descobrir se as verbas não resultam de desvios praticados no esquema da Petrobras. A defesa de Dirceu e das empreiteiras afirmou que os contratos envolviam consultorias sobre negócios no exterior. Ah, bom.