Dois temas têm ocupado a agenda dos sócios do BTG Pactual nos últimos 10 dias: a liquidez do banco e o desinvestimento dos negócios (que, no final, não deixa de ser parte do primeiro). Com o empréstimo de R$ 6 bilhões acertado com o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), na sexta-feira 4, o BTG Pactual aumenta seu colchão de proteção e diminui o efeito manada dos investidores que correram para sacar seus recursos após a prisão do banqueiro André Esteves pela Lava Jato. Agora, a concentração passa a ser cumprir a ordem de “se desfazer” do que for possível para que o BTG Pactual volte a fazer o que faz de melhor: ser um banco de investimentos.

O alvo desse processo são as participações em empresas, que desde o início trouxeram muita dor de cabeça para o grupo. Até o terceiro trimestre deste ano, todos os negócios não-financeiros acumulam um prejuízo de R$ 405 milhões. No ano passado, a perda para o banco foi de R$ 485 milhões. Carlos Fonseca, responsável pela administração dos mais de 30 participações ligadas ao mundo real, recebeu um prazo para encontrar interessados em todos elas. O chairman do banco, Persio Arida, em entrevista à DINHEIRO, afirmou que todos os negócios geram um interesse espontâneo, com os compradores batendo à porta do BTG Pactual. Mas isso não garante que as vendas serão fáceis.

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Algumas operações são ótimas e atrativas e, por isso, não encontrarão dificuldades de trocar de mãos. Na última quarta-feira, a rede de hospitais D’Or confirmou a percepção de Arida. Com receita de R$ 5,5 bilhões no ano passado, o BTG Pactual nem precisou se movimentar para que o Fundo Soberano de Cingapura arrematasse sua participação por R$ 2,4 bilhões. O caso é parecido com a empresa de ativos imobiliários BR Properties. Na terça-feira 1º, o banco vendeu 5,96% de um total de um total de 35,87% de sua participação na empresa. A operação foi realizada na BM&FBovespa e levantou R$ 223,6 milhões. A próxima a sair da carteira é a rede de estacionamentos Estapar, que ultrapassou faturamento de R$ 1 bilhão em 2014, e deve ter sua venda concluída nos próximos dias.

Esses três negócios atraem atenção natural e parecem ser exceção dentro da carteira do BTG. As demais empresas vão exigir esforços, como o banco já está fazendo. Considerada um dos ativos mais valiosos, a rede varejista Leader Magazine acumula uma série de dificuldades. Há, por exemplo, divergências entre o BTG Pactual e seus sócios, a família fundadora Gouvêa, que detém 30% da rede.

Os desentendimentos vão desde a administração até o aumento de capital que precisa ser feito. Embora seja uma das 10 maiores varejistas de moda do País, com faturamento de R$ 1,5 bilhão no ano passado, dificilmente vai atrair um concorrente, principalmente pela retração no consumo e recessão da economia. Em 2008, a Renner demonstrou interesse em adquirir a Leader, mas o negócio não avançou. Agora, o mercado não acredita numa nova investida da Renner. A saída para o BTG Pactual seria encontrar um outro sócio capitalista. No mesmo caminho da Leader está a Estre Ambiental, uma das maiores empresas privadas de coleta, limpeza e tratamento de lixo. A relação com o fundador Wilson Quintella Filho está estremecida e a Angra Partners, que tem uma participação minoritária no negócio, poderia assumir a participação do BTG Pactual. DINHEIRO apurou que os sócios se encontraram em São Paulo, na última quarta-feira, mas nenhuma proposta de compra e venda foi discutida.

São as participações na Sete Brasil e na BR Pharma que darão mais trabalho para virar dinheiro vivo. O estaleiro criado no governo Lula para construir sondas para a Petrobras explorar as reservas no pré-sal acumula mais de R$ 14 bilhões em dívidas e dificilmente os bancos credores assumiriam a participação do BTG Pactual. O pool de farmácias da BR Pharma não tem problemas semelhantes aos da Sete Brasil, mas peca pela falta de integração entre as redes Farmais, Guararapes, Drogarias Big Ben, Rosário e Farmácia Sant´ana. Quem conhece a estrutura por dentro conta que as marcas são muito distintas para estarem unidas: continuam com espírito familiar e gestão própria, além de uma enorme dificuldade em se enquadrar nos rígidos controles de fluxo de caixa impostos pelo banco.  Criada para ser a grande consolidadora desse mercado de farmácias e drogarias, o plano era conquistar a Drogasil de qualquer jeito. Mas a fusão entre ela e a Droga Raia, em 2011, jogou um balde de água fria nos planos do banco. A rede americana Walgreens, que chegou a namorar a BR Pharma há dois anos, está sendo procurada pelo BTG Pactual, apurou a DINHEIRO.  Os executivos do banco também estão consultando os fundadores dessas redes para saber se há interesse em recomprar o negócio, como Raul Aguilera, fundador da paraense Big Ben. As cartas estão na mesa.