06/04/2023 - 5:30
Se sonhos não envelhecem, como afirma Milton Nascimento em Clube da Esquina 2, eles podem crescer e se tornar adultos. Ao menos é o que mostra a trajetória da TecToy nos negócios. Começou como pioneira na fabricação de videogames, se tornou objeto de desejo de dez entre dez crianças nascidas entre a década de 80 e o início dos anos 2000 e chega a 2023 dona de 80% do mercado de máquinas de pagamento. E na jornada do herói da TecToy tem um pouco de tudo. Desde o surgimento audacioso como fabricante de brinquedos tecnológicos, a conquista de 75% do mercado de jogos eletrônicos no Brasil no auge, um pedido concordata após a crise asiática e uma reviravolta a partir de lançamentos de videokê e DVDs.
Um dos motivos apontados na época para a queda da companhia foi o crescimento rápido, que a tornou dependente de injeções de capital e empréstimos. Os últimos dados públicos são de 2017, quando a empresa tinha capital aberto, apenas 35 funcionários e um prejuízo de R$ 21,5 milhões. Hoje, são mais de 2 mil colaboradores. “Vendemos para PagSeguro, Stone e Cielo. Temos 80% desse mercado e estamos nos preparando para a adoção do pagamento por reconhecimento facial que já é uma realidade em vários países no mundo. O que falta ainda no Brasil é a aprovação de uma legislação sobre o tema”, afirmou o CEO, Valdeny Rodrigues, no cargo desde 2019, ano em que a empresa focou na ampliação da linha de eletrônicos e no retorno à lucratividade nas operações.
Se a criança cresceu, os aparelhos da TecToy também e seguem acompanhando muita gente grande na vida adulta. A guinada da empresa para esse mercado veio com a compra da Transire Eletrônicos, fabricante de equipamentos de pagamento, em 2015 e diversificação dos negócios. A Tectoy Eletrônicos, divisão responsável por essa nova área da empresa, lançou, nos últimos anos, smartphone, tablet e até smartwatches. Hoje são mais de 40 milhões de equipamentos da Transire Eletrônicos no mercado.
Os adultos que usaram os produtos durante a infância seguem clientes da marca e presenteiam os filhos com brinquedos relançados, como Pense Bem ou Atari, cujos jogos não são violentos e o preço muito mais acessível em relação ao da concorrência — o Master System é vendido por R$ 399, enquanto o novo Play Station, da Sony, sai por cerca de R$ 4,5 mil. Na linha de eletrônicos, a companhia oferece ainda babá eletrônica e lâmpadas inteligentes.
O presidente da TecToy afirma que novos lançamentos serão feitos com a chegada da tecnologia 5G ao Brasil. Mas mesmo que trazer novos produtos ao portfólio seja uma prioridade, a aposta de maior crescimento está mesmo na área de automação do varejo, que no último ano deu um salto de 60%. Nesse negócio, a empresa fornece, por exemplo, quiosques e tótens em que o cliente pode fazer o seu próprio pedido, check-in e check-out, algo que começa a se popularizar em alguns varejistas mais avançados no processo de digitalização.
Hoje a ideia de um dispositivo que tem resposta para temas como história e geografia e realiza operações matemáticas básicas parece boba frente aos notebooks presentes no dia a dia, mas era revolucionária em 1988 quando o Pense Bem foi lançado. Assim como a Estrelinha Mágica da Turma da Mônica que cabia na palma da mão, piscava, cantava, colocada no mercado no ano seguinte. Brinquedos que arrancaram sorrisos feitas pela mesma empresa que hoje produz maquininhas que testemunham lágrimas de muito marmanjo frente a pergunta: é no crédito ou no débito? Coisas da vida adulta.