07/03/2012 - 21:00
Tudo começou com uma sugestão dos economistas Nicholas Stern, ex-conselheiro do governo britânico para mudanças do clima e autor de um relatório sobre o assunto, e Joseph Stiglitz, ex-economista-chefe do Banco Mundial, e prêmio Nobel de Economia. Numa das reuniões dos BRICS no fim do ano passado, os dois entregaram um documento ao grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul sugerindo a criação de um banco comum de desenvolvimento. A Índia, na presidência rotativa do grupo, não perdeu tempo: acatou a sugestão, elaborou uma proposta e a formalizou para os ministros da Fazenda dos cinco países emergentes.
Os poderosos emergentes: a presidenta Dilma e os líderes da Índia, da Rússia,
da China e da África do Sul reunidos em cúpula em território chinês.
A receptividade foi boa e o projeto mais detalhado será apresentado na reunião de cúpula do dia 29, em Nova Délhi. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ver “com simpatia” a ideia de um banco dos emergentes. Praticamente nada está definido – o que abre ainda maiores possibilidades de o Brasil ajudar a criar o novo banco de acordo com os seus interesses. Não se sabe ainda se ele será composto apenas pelos cinco integrantes do grupo, se a formação de capital será paritária, ou por cotas proporcionais ao tamanho de cada economia, e se os recursos vão financiar projetos de desenvolvimento de infraestrutura ou terão um foco mais amplo, como fazem hoje o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Na verdade, o que Mantega vê mesmo com simpatia é a tentativa dos BRICS de ocupar um espaço maior no cenário internacional, proporcional ao peso que esses países têm hoje na economia. Embora Europa e Estados Unidos ainda representem de longe a maior parte do PIB global, são os emergentes que estão crescendo em ritmo acelerado e aumentando sua fatia do bolo. Juntos, os cinco países representam um PIB de US$ 11 trilhões, um sexto do PIB mundial, e 2,9 bilhões de habitantes, quase metade do total. O grupo criado em 2001 por Jim O’Neill num relatório do Goldman Sachs criou vida e já é ouvido em reuniões internacionais.
A perda relativa de importância do sistema de Bretton Woods e os ganhos modestos dos emergentes na reforma da composição de poder do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial abrem espaço para a criação de outros grupos, que já nascem refletindo a maior influência dos emergentes. Além dos BRICS, é o caso do G-20, formado pelas 20 maiores economias do mundo, que acabou ocupando parte do espaço do G-7 nas discussões sobre economia mundial. “Não me parece que exista uma necessidade clara de um outro banco, em relação a recursos”, disse à DINHEIRO Bernardo Wjuniski, economista para a América Latina da consultoria americana Medley Global Advisors.
Até porque o País já tem o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a maior instituição de fomento do mundo em termos de desembolsos, com um total de R$ 139,7 bilhões no ano passado. E no banco dos BRICS o Brasil seria provavelmente o credor dos recursos, não o tomador. “Já do ponto de vista político é muito importante”, afirma Wjuniski. Essa posição é reforçada pelo economista Domenico Lombardi, pesquisador do Brookings Institution, em Washington, para quem a criação de um banco aumenta o poder de barganha dos emergentes no Banco Mundial. “É mais fácil, também, fundar um novo banco de fomento do que reformar essas instituições”, afirma.
Além dos mecanismos de financiamento, os países em desenvolvimento também querem ampliar sua influência na Organização Mundial do Comércio (OMC), que hoje é dirigida pelo francês Pascal Lamy e terá eleição em abril de 2013. Os BRICS já discutiram o assunto no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, no fim de janeiro. Os candidatos precisam ser apresentados até dezembro e o atual embaixador brasileiro em Genebra, Roberto Azevedo, pode ser indicado. “Seria muito bom para arejar a agenda trazer novos temas para a OMC”, diz Wjuniski. Na OMC, as decisões são tomadas por consenso, e todos os sócios têm o mesmo peso. Já no FMI e no Banco Mundial a representação é por cotas e, apesar da recente reforma, prevalece o rodízio entre americanos e europeus. O banco dos BRICS seria uma forma de quebrar essa hegemonia.