Depois de 11 anos engavetado pelos sucessivos governos, o projeto que pretende mudar o perfil econômico do Distrito Federal pode estar saindo do papel. A ideia, retomada pelo governador Agnelo Queiroz (PT), é fazer com que Brasília, cidade administrativa sustentada por empregos públicos e pelo comércio, se transforme em um polo de desenvolvimento de tecnologia. 

A chave para essa transformação atende pelo nome de Parque Tecnológico Capital Digital, a ser erguido num terreno de 123 hectares, próximo à Granja do Torto, uma das residências oficiais da Presidência da República. O objetivo é criar mais um espaço para incentivar a inovação, somando-se aos 25 parques tecnológicos já em funcionamento e 49 em implantação ou em fase de projeto no País. 

 

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“Queremos dobrar o faturamento de TI no Distrito Federal até 2017”

Oliveira Ramos > Secretário de ciência e tecnologia do DF

 

A capital digital já nasce com a meta ambiciosa de atrair, nos próximos quatro anos, cinco laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de classe internacional. Pretende, ainda, gerar 80 mil novos empregos e dobrar o faturamento do segmento de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) no DF, para R$ 6 bilhões até 2017. “Tem tudo para dar certo, porque o maior comprador de tecnologia do Brasil é o governo federal, que está aqui”, disse à DINHEIRO Gastão José de Oliveira Ramos, secretário de Ciência e Tecnologia do Distrito Federal.

 

Na verdade, o governo se faz representar por diversos compradores, como o Dataprev, empresa de processamento de dados do Ministério da Previdência Social, ou o Prodasen, a chamada Secretaria Especial de Informática do Senado Federal. As companhias privadas que fornecem tecnologia para essas estatais de tecnologia também poderiam se mudar para o parque. “Além dos escritórios de venda, elas podem instalar seus centros de desenvolvimento”, diz Ramos. 

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Segundo o secretário, grandes companhias, como Microsoft, Intel, Oracle, Cisco e Sun, também demonstraram interesse em fincar suas bandeiras no parque, que terá 2 milhões de metros quadrados de área construída. Está prevista, ainda, uma incubadora de empresas inovadoras, administrada pelas duas universidades que participam do projeto, a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Católica de Brasília (UCB). 

 

As duas escolas terão, também,  papel fundamental para atingir outra meta: qualificar ou atrair 15 mil profissionais de TIC até 2014, sendo 500 doutores, 3,5 mil mestres e 11 mil especialistas e técnicos. Elas devem garantir cursos de inglês para todos os profissionais que vão atuar no complexo, entre outras coisas.

 

Em maio, o governo deve publicar o edital de licitação para escolher a empresa que irá criar a infraestrutura e construir os edifícios do parque digital. Se tudo der certo, os envelopes serão abertos no dia 21 de julho e as obras começam em seguida, aproveitando a estação seca em Brasília. O modelo não prevê injeção de recursos públicos. Em vez disso, o Estado vai doar o terreno, avaliado em R$ 1,5 bilhão. 

 

A ideia é montar uma parceria público-privada, com a constituição de uma sociedade de propósito específico (SPE), tendo cinco parceiros na empreitada: o governo do Distrito Federal, a Terracap, estatal que administra os terrenos públicos na capital, a UnB e a UCB, além da empresa ou consórcio vencedor da concorrência. 

 

É essa SPE que vai construir todo o complexo e alugar o espaço para as companhias interessadas, sejam fabricantes, sejam desenvolvedores de produtos, pesquisadores ou prestadores de serviços. Os sócios privados devem fazer uma contrapartida um pouco acima do valor do terreno para ficar em vantagem na partilha da sociedade, e assim fugir das amarras da lei de licitações. Se os recursos não forem suficientes, a SPE vai procurar captar mais dinheiro no mercado.

 

 

Um datacenter vizinho ao parque

 

Antes mesmo da licitação para a construção do Parque Tecnológico Cidade Digital, a região já atraiu seu primeiro projeto de TIC. O novo datacenter do Banco do Brasil e da Caixa, um projeto de R$ 880 milhões que estava parado com a indefinição sobre o parque, começou a ser construído em fevereiro num terreno vizinho, num modelo inédito de parceria público-privada. 

 

Em vez de fazer uma licitação para o projeto, outra para a construção e uma terceira para a prestação de serviços, como a manutenção do prédio, o BB e a Caixa foram em busca de uma empresa que se responsabilizará por todas as etapas. “O fato de a empresa construir, e ela mesma operar, é uma garantia de qualidade”, diz Jesualdo Conceição da Silva, gerente do projeto. A empresa escolhida é a GBT S.A., consórcio que reúne as construtoras GTE Engenharia e Termoest, e a BVA Investimento.