22/07/2022 - 3:10
Uma empresa belga, aberta por uma brasileira, que vende comida de astronauta produzida na Bahia e consumida pelos ucranianos que enfrentam uma guerra contra a invasão da Rússia. A princípio parece confuso, mas calma. A gente explica essa miscelânea que tem até a ONU e a Nasa envolvidas. “Nosso público quer comer e provar os mesmo alimentos dos astronautas. Simples assim. As crianças gostam muito”, disse à DINHEIRO Cecilia Sobral, tentando resumir o seu negócio. Não é tão simples assim. Nem sua história, nem seu negócio. Mas faz muito sentido.
A paulistana, de 37 anos, cresceu nas ruas de terra da Serra da Cantareira, ao norte da cidade de São Paulo. Depois de algumas mudanças de município, de estado e de escolas, formou-se em química ambiental, com especialização em biofísica, na Universidade de São Paulo (USP). Começou a trabalhar em escritório de advocacia, para atuar em patentes químicas. Morou nos Estados Unidos. Voltou para o Brasil. E a partir de uma consultoria para o Sebrae do Paraná sobre alimentos orgânicos, recebeu contato de um grupo de empresários da Bélgica. Foi para o país europeu em 2018 conhecer o ecossistema empreendedor local e por lá ficou. Depois de um amplo trabalho de pesquisa, resolveu criar a Galaxy Holdings BV, empresa que tem a linha de produtos Space-A, de alimentos liofilizados — processo de desidratação e congelamento, que mantém 98% dos nutrientes, utilizado pela Nasa em suas missões espaciais.
O negócio tem se demonstrado promissor. Os produtos, em sua maioria frutas como açaí, banana, manga, maçã e morango, já são vendidos em mercados da Bélgica e em breve estarão nas pratelerias de estabelecimentos de Alemanha, França e Portugal. Cecilia, inclusive, fechou contrato de cinco anos com a própria Nasa, para comercializar os produtos na Space Adventure, exposições itinerantes da agência espacial americana realizadas em diversas cidades do mundo. Também há parceria com o World Food Programme (WFP), programa alimentar mundial ligado à Organização das Nações Unidas. “Quando um cliente compra um produto da Space-A, nos responsabilizamos por doar o mesmo para áreas de vulnerabilidade alimentar”, afirmou Cecília. Os snacks têm chegado à Ucrânia pela BrazUcra, frente brasileira de voluntários que apoiam pessoas na zona de conflito com a Rússia.
Os alimentos são produzidos em fábrica terceirizada de Itaberaba, na Bahia. Hoje são 30 mil unidades mês, cerca de 700 quilos. Há negociações em andamento que devem aumentar o volume para
1,5 tonelada mensais. Os produtos são embalados e enviados ao Porto, em Portugal. Lá recebem as embalagens e vão para o armazém da Space-A na cidade belga de Asse, de onde são distribuídos aos mercados. Alimento espacial e especial, com tempero baiano.