Boa parte dos participantes já desembarcou no Rio de Janeiro. Os primeiros estudos foram apresentados e as discussões, iniciadas. No entanto, os resultados práticos da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), o maior evento global realizado nas últimas duas décadas sobre o tema, deverão ser conhecidos daqui a alguns anos. “A Rio+20 faz parte de um processo que começa com a Eco-92. Naquela época se colocou o meio ambiente na agenda internacional”, disse a presidenta Dilma Rousseff, na quarta-feira 13, em discurso de abertura da conferência, cujo encerramento está previsto para a sexta-feira 22. “Teremos que dar outra partida, outro início, um recomeço”. 

 

82.jpg

 

Uma diferença parece clara em comparação com o encontro ocorrido há 20 anos. Algumas das imagens mais marcantes da conferência de 1992, também realizada na capital fluminense, traziam alguns dos cerca de 100 chefes de Estado que marcaram presença. Era um avanço expressivo em relação ao primeiro grande evento para debater o meio ambiente, realizado em Estocolmo, em 1972, quando apenas dois participaram. Mas, assim como o termo ecologia foi substituído nas últimas décadas pelo mais abrangente “desenvolvimento sustentável”, os chefes de Estado – desfalcados pelos mandatários de três das principais economias mundiais, o americano Barack Obama, a alemã Angela Merkel e o britânico David Cameron – devem assumir uma posição secundária. 

 

83.jpg

Os anfitriões da Rio+20: a presidenta Dilma Rousseff e o secretário-geral da conferência, Sha Zukang,

entre o prefeito, Eduardo Oaes (à esq.), e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.

 

Isso porque, nos últimos anos, cada vez mais o protagonismo nas ações para a preservação do meio ambiente está com as empresas. “Os governos carregam a principal responsabilidade”, disse Sha Zukang, secretário-geral da Rio+20, durante a abertura da conferência. “Mas não podem fazer tudo sozinhos.” Algumas empresas já são conhecidas por carregar a bandeira ambiental. Fazem isso de olho nos dividendos financeiros que podem ganhar. Tome-se o exemplo do Google, o gigante americano de tecnologia, que está investindo US$ 915 milhões em energias renováveis. São oito propostas que incluem projetos de geração de energia solar e eólica, nos Estados Unidos e na Europa. 

 

Mas poucas corporações conseguiram tamanho retorno financeiro com iniciativas sustentáveis como a alemã Siemens. Sua divisão de produtos e serviços verdes rendeu € 30 bilhões em 2011. E é no Brasil, onde os investimentos em energia eólica, por exemplo, não param de crescer, que a empresa pretende investir pesado. Para vender seus serviços e produtos, a companhia está fazendo pesquisas em que o foco é como tornar as cidades mais ecológicas. A primeira da lista é o Rio de Janeiro, cujo relatório será mostrado na Rio+20. A Siemens não está sozinha. Um dos palcos mais concorridos da conferência é o Pacto Global, iniciativa criada em 1999, pelo então secretário-geral da ONU, Kofi Annan. 

 

84.jpg

 

 

Os debates e seminários deverão reunir dois mil empresários, executivos e líderes políticos. Outra que pretende fazer do fórum uma vitrine é a Bayer. A gigante alemã do setor químico também vai apostar em construção civil. Explica-se. Seu quinto prédio sustentável de escritórios corporativos será erguido justamente em São Paulo e servirá de vitrine para os produtos de sua divisão Bayer MaterialScience, como polímeros que melhoram o isolamento térmico da edificação. “Será uma espécie de showroom para nossos clientes”, afirma Ulrich Ostertag, presidente da divisão para a América Latina. 

 

A meta é vender esses produtos e serviços para as construtoras e outras empresas interessadas em se tornar “mais verdes”. Ou seja, a Bayer pretende ajudar o meio ambiente e ainda ampliar os negócios da divisão, que fatura globalmente € 10,8 bilhões. Para empresas de setores em que a própria atividade causa impactos sociais e ambientais severos, como a mineração, a preocupação com sustentabilidade se tornou uma questão de sobrevivência. “Estamos aprendendo a começar direito os projetos como forma de reduzir os custos no futuro, evitar impactos negativos e problemas de imagem”, diz Juliana Rehfeld, responsável pela área de desenvolvimento sustentável da Anglo American. Um exemplo foi a ampliação de sua mina em Barro Alto, em Goiás, entre 2007 e 2011. 

 

85.jpg

Instalação no forte de copacabana, que abrigará uma conferência com prefeitos de todo o mundo.

 

Os efeitos na região eram inevitáveis, com a destruição do solo e o aumento repentino da população, numa cidade de apenas seis mil habitantes. Para mitigar efeitos negativos a mineradora financiou estudos de biodiversidade para o manejo do entorno do terreno explorado e estimulou a criação de um banco comunitário. E ainda promete plantar sementes para reverter os danos ambientais causados ao solo, quando deixar a região. Os incentivos para uma evolução vem também por parte dos investidores. O empresário paulista Alexandre Chade, presidente do fundo de investimento Ascet e da empresa de fidelização Dotz está à frente de um novo projeto para investimento em empresas ligadas ao meio ambiente. 

 

Batizado de A7 Columbus, ele começará a captar recursos até o fim deste ano. O fundo destinará entre US$ 150 milhões e US$ 300 milhões a projetos de geração de energia renovável, agricultura sustentável e educação. Os bons exemplos, no entanto, nem sempre passam da teoria à prática. Segundo pesquisa da consultoria Deloitte, o número de companhias que disseram adotar práticas sustentáveis subiu de 78%, em 2009, para 85% neste ano. Mas apenas 47% possuem, de fato, políticas e diretrizes aplicadas para a sustentabilidade. Fazer essa turma trocar a teoria pela prática, já seria um grande resultado para a Rio+20.

 

86.jpg