12/08/2022 - 5:00
Investimento em realização de R$ 2,5 bilhões, inventário com 20 mil carros, 16 milhões de visitantes no site, além de 92 mil nas lojas. Os números superlativos contam um pouco da trajetória da Kavak no primeiro ano de atividades no Brasil, completado em julho. Com valuation de US$ 8,7 bilhões, a startup mexicana de compra e venda de carros usados pela internet é considerada a maior da América Latina e deixa claro as pretensões no mercado nacional. “O Brasil está entre os maiores mercados do mundo [é o terceiro em carros usados, atrás de Estados Unidos e China]. É o mais atrativo que existe no planeta agora”, afirmou à DINHEIRO Roger Laughlin, cofundador e CEO da Kavak no País. “Além do fato de o consumidor do País estar familiarizado com plataformas tecnológicas e ser apaixonado por carro.”
O segmento, de acordo com o executivo venezuelano, movimenta US$ 100 bilhões anualmente no Brasil, além de ser responsável por 14 milhões de transações. “É a maior oportunidade que temos pela frente”, disse Laughlin, que participou do processo de abertura da empresa no México, em 2016. Depois houve a expansão à Argentina (2020) e mais recentemente ao Chile, Colômbia, Peru e Turquia. No Brasil a expectativa é pela retomada do mercado, que registrou recordes de vendas em 2021, mas recuou em 2022 diante da alta da inflação, que impacta nos juros dos financiamentos, e do aumento dos preços dos modelos. Segundo a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), a média diária de transferências em julho foi de 55,4 mil unidades, resultado 3,3% superior ao registrado no mês anterior. No acumulado do ano, porém, foram comercializados 7,2 milhões de exemplares, volume 18% inferior ao do mesmo período de 2021.
O executivo Enilson Sales, presidente da Fenauto, visualiza uma recuperação lenta do mercado, mas constante, além de revelar expectativa positiva de resultados até o final do ano, historicamente, um período melhor para vendas. “Mas manteremos, também, uma atenção aos possíveis fatores que podem influenciar o mercado como a taxa de juros, crédito e até mesmo as
eleições”, afirmou.
REALIDADE Engana-se quem pensa que a Kavak passou incólume pelas turbulências do segmento. A companhia precisou adequar a sua estrutura frente aos impactos da economia nos negócios. A solução foi pôr o pé no freio. As medidas incluíram demissões em praças como São Paulo e Rio de Janeiro que representam, ao lado de Belo Horizonte, 70% das vendas de carros usados em território nacional. “A situação macroeconômica mudou. A situação do Brasil mudou”, afirmou Laughlin. “Tivemos que adaptar a rota, tomar decisões difíceis.” A empresa dispensou cerca de 150 colaboradores. Atualmente tem 2 mil.

Nada, no entanto, que mine a confiança do CEO da Kavak na retomada em definitivo dos negócios. A aposta para crescer no País está em diferenciais oferecidos pela startup, como garantia de dois anos nos automóveis, inspeção de 240 itens e experiência que pode ser 100% digital ou híbrida. Isso sem contar a possibilidade de o comprador devolver o veículo após sete dias ou 300 quilômetros. “No México e na Argentina, por exemplo, a garantia dada aos automóveis é de três meses e vendemos uma proteção estendida de um ano. Enxergamos o consumidor brasileiro como mais exigente, mais sofisticado.”
ESTRUTURA Como parte do processo de desenvolvimento no País, a empresa inaugurou em Barueri, região metropolitana de São Paulo, a Kavak City, complexo de recondicionamento e processamento dos carros com capacidade para 7 mil unidades. A empresa mantém operações em cidades da grande São Paulo – casos de São Bernardo do Campo e Cotia, por exemplo – , e do interior, casos de Campinas e Sorocaba. No total são 25 showrooms distribuídos nas três principais capitais da região Sudeste – além de São Paulo, Rio e Minas. “Em até cinco anos queremos ampliar as operações para Curitiba, Porto Alegre e Brasília, mercados relevantes estrategicamente. E depois um próximo passo seria o Nordeste.”
A expansão das operações está condicionada à consolidação do negócio no País, processo que, na visão de Laughlin, não depende exclusivamente da situação econômica. É preciso, também, conquistar a confiança do consumidor brasileiro. O executivo afirmou que, no Brasil, um proprietário costuma trocar o carro a cada cinco ou seis anos, intervalo considerado longo. O motivo? “Porque ele não quer passar novamente pela experiência de comprar, de vender. A pessoa entra na negociação com dor de barriga. É um mercado que o consumidor não confia, sem muitas garantias.” A saída? “Se conseguirmos trazer avanços, melhorar a percepção que o consumidor tem do mercado, acredito que aumentaremos a frequência com que trocará de carro. Só vai aumentar o tamanho da oportunidade para todos”, disse.
Segundo o venezuelano, a Kavak superou as próprias expectativas por, em um ano, ter atingido metas importantes, como desenvolver a infraestrutura, aprender a comprar em escala, além de construir a proposta e a solução de financiamento que, no caso da empresa, tem penetração próxima a 50% nas vendas totais, contra “menos de 30% do mercado no Brasil”, disse. “Já não está tendo volatilidade nas taxas de aprovação”, afirmou ele, que, otimista, vê um cenário interessante até o final de 2023, independentemente de eleições e de Copa do Mundo. “Vamos olhar mais para a rentabilidade, para construir um negócio que consiga ser sustentável.”
Sem disponibilizar o total de negócios efetivados no País desde o início das operações, a Kavak pretende, quilômetro a quilômetro, alcançar 20% de market share no País – a participação atual não foi revelada. “O mercado de carros usados é muito pulverizado.” Entre os planos para crescer, está a possibilidade de fazer negócios com varejistas, como revendedoras e concessionárias. “Se enxergarmos a oportunidade de vender parte do nosso inventário para o lojista, vamos fazer. Mas o nosso principal foco é comprar do consumidor final e vender para o consumidor final.”