23/12/2015 - 18:30
A bola de cristal dos economistas não costuma primar pela precisão. Em 2015, particularmente, foi um desastre. As projeções indicavam, no começo de janeiro, uma alta de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e uma inflação levemente acima do teto da meta, em 6,56%. Passados quase 12 meses, a realidade do País é muito mais cruel. O PIB está encolhendo quase 4% e a inflação superou os 10%, num claro retrocesso econômico. A favor dos economistas, no entanto, há componentes políticos e jurídicos que justificam os erros.
A Polícia Federal e o Ministério Público, com o respaldo do Poder Judiciário, têm protagonizado diversas operações de combate à corrupção que envolvem caciques políticos e empresários, com efeitos na economia real. Além disso, a expectativa em torno do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff acirrou os anônimos no Congresso Nacional, paralisando a tramitação das medidas do pacote fiscal. “O impacto que a crise política está tendo no País atinge proporções inimagináveis por qualquer economista por mais pessimista que fosse meses atrás”, afirma Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco.
Como essas incertezas permanecem no radar, a elaboração de prognósticos para 2016 continua sendo uma missão desafiadora, quase impossível, para os especialistas. A única certeza, até agora, é de que não será um ano fácil para os investidores. O primeiro semestre ainda registrará uma forte retração do PIB. Se o governo conseguir controlar a crise política e houver uma rápida definição sobre o processo de impeachment no Poder Legislativo, será possível vislumbrar um início de recuperação econômica nos últimos meses de 2016.
Isso, é claro, não salvará o ano, mas possibilitará uma recessão menos agressiva do que a de 2015, com queda de 2,8% do PIB, segundo o Boletim Focus do Banco Central, que colhe previsões de cerca de 100 consultorias e instituições financeiras. O impacto no desemprego será inevitável. A LCA Consultores estima que a taxa média subirá de 6,9% em 2015 para 8,9% em 2016, seguindo os parâmetros da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE, que coleta informações em apenas seis regiões metropolitanas.
No caso da Pnad Contínua, que abrange cerca de 3,5mil municípios, a taxa de desemprego chegará no ano que vem aos dois dígitos, em 11,8%, ante os 8,6% deste ano. “A deterioração do mercado de trabalho é ponta final da crise”, diz Fabio Romão, economista da LCA Consultores. “No ano que vem, o País perderá 1,2 milhão de vagas formais, com grande concentração das demissões no primeiro trimestre.” Sob o comando do novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, a equipe econômica promete perseguir a meta de superávit primário de 0,5% do PIB, em 2016.
No front, está a tentativa de recriar a famigerada CPMF, que pode render R$ 10 bilhões aos cofres públicos, em 2016. Isso, é claro, se for aprovada no primeiro semestre. “Com o Barbosa, o ajuste fiscal tende a ser mais suave e diluído ao longo do tempo”, diz Manuel Enriquez Garcia, presidente da Ordem dos Economistas do Brasil (OEB). “O problema é que perderemos o grau de investimento pela terceira agência de classificação de risco, a Moody’s.”
O mercado, na prática, já precificou a deterioração das contas públicas, com a disparada do Credit Default Swap (CDS), um derivativo financeiro que protege os investidores contras calotes. “O risco do Brasil ficou muito alto para o estrangeiro, que tende a olhar o México com mais atenção”, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management. “A economia mexicana será beneficiada pelo crescimento dos Estados Unidos.” Com uma inflação menor, mas ainda acima do teto da meta, de 6,5%, o Banco Central será pressionado a elevar os juros, sufocando uma economia já em recessão.
Para os especuladores estrangeiros, o Brasil continuará sendo o paraíso dos juros altos. Aos empresários, no entanto, faltarão estímulos para desengavetar projetos. “Com a confiança do setor privado muito baixa, cabe ao governo dar o pontapé inicial nos investimentos”, diz Garcia. Para piorar, a cadeia de óleo e gás, que representa 15% dos investimentos do País, está paralisada diante do processo de reestruturação na Petrobras.
“A queda do barril do petróleo a um patamar inferior a US$ 40 é avassaladora para o setor”, diz José Cláudio Securato, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-SP). “Além disso, a cadeia da construção civil foi afetada pela Operação Lava Jato.” Já o forte ajuste cambial em curso pode minimizar os efeitos da crise econômica, ao menos no comércio exterior. A desvalorização de 50% do real em 2015 está estimulando as exportações, por exemplo, do setor de celulose. Com isso, o superávit da balança comercial deve dobrar em 2016, superando os US$ 30 bilhões.
Além disso, os ativos brasileiros ficaram mais baratos em dólar, atraindo a atenção dos estrangeiros que olham para o longo prazo (leia artigo aqui). No mercado interno, há boas perspectivas para os setores de educação, saúde e seguros. Neste cenário de elevada incerteza, a recomendação de cautela é crucial para empresários e investidores. “É muito mais fácil e barato ajustar o cenário para cima, se a economia melhorar, do que ajustar para baixo, se a economia piorar”, afirma Securato.
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