16/09/2016 - 20:00
A economia colaborativa deu origem a gigantes como o aplicativo de transporte Uber e o de aluguel de quartos e casas Airbnb, que valem US$ 68 bilhões e US$ 25,5 bilhões, respectivamente. Por esse motivo, todos os dias surgem startups que querem ser o próximo Uber ou Airbnb de algum setor, com a esperança de se transformar em um unicórnio, termo usado para se referir às empresas iniciantes que conseguem avaliações superiores a US$ 1 bilhão. Agora, uma nova geração de aplicativos quer alcançar essa marca explorando o bico, um trabalho esporádico com o objetivo de ganhar uma renda extra.
São os casos de Eu Entrego, que cadastra pessoas para fazer entregas, do Supermercado Now, que seleciona candidatos a realizarem compras em varejistas de alimentos, e da Beved, plataforma na qual qualquer um pode criar um curso online. “Todo mundo será autônomo um dia”, afirma João Paulo Camargo, CEO da Eu Entrego, que nasceu em fevereiro, com aporte de R$ 1 milhão. A ideia de criar a Eu Entrego surgiu de duas constatações de Camargo. A grave crise econômica no Brasil aliada a um sistema de logística pouco evoluído. A startup tem atuação em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Campinas, Salvador e Curitiba. Até o momento, conta com uma base de 2,3 mil pessoas cadastradas.
Mas o número tende a crescer nos próximos meses, pois há 5 mil inscrições que aguardam liberação. Um desses inscritos é Giuliano Giovanetti, que trabalha em uma ONG e usa as horas vagas para fazer entregas, ganhando de R$ 60 a R$ 20 a cada serviço. “Se pudesse pegar mais encomendas, ganharia até 20% do meu salário atual”, diz Giovanetti. “Por enquanto, ajuda a pagar algumas contas em casa.” O aplicativo funciona de forma simples. O cliente entra no programa e informa o que deve ser entregue e em qual endereço. Os entregadores que estão próximos ao pedido são avisados e podem negociar online o valor do envio da mercadoria. Cerca de 80% do preço é pago ao entregador, que recebe os recursos em conta bancária um dia após o serviço.
“Em média, nosso serviço é 10% mais barato que os Correios”, afirma Camargo. Os entregadores são obrigados a manter um código de conduta, como tirar uma foto do ponto de coleta e de entrega. É a mesma lógica do Supermercado Now, no qual os consumidores fazem compras online em supermercados e pessoas cadastradas, chamadas de “shoppers”, vão até as prateleiras fazer a coleta dos produtos. “Por mês, recebo 70 cadastros de pessoas querendo ser shoppers”, diz Marco Zolet, sócio do Supermercado Now, que tem um cadastro com 200 entregadores. Cada “shopper” recebe R$ 11,90 por entrega, justamente o valor do frete. “As pessoas estão procurando uma renda extra e há estudantes que buscam trabalhos esporádicos.”
Há casos em que o bico se torna em algo que abre uma série de portas. Foi o que aconteceu com o hoje “youtuber” Anderson Gaveta. Ele passou a dar aulas de edição de vídeo na plataforma Beved por conta do trabalho que fazia para o grupo Jovem Nerd, que possui site, podcast e canal no YouTube com 1,6 milhão de inscritos. O que era um serviço esporádico virou quase que sua principal fonte de renda. “O curso do Gaveta tem lotação total”, diz Matt Montenegro, CEO do Beved, startup que permite que qualquer pessoa possa ministrar cursos online. Atualmente, a Beved reúne 30 mil usuários. Cada curso, atualmente, tem um custo médio de R$ 170.
“Encaro como uma fonte de renda”, diz Gaveta, que criou a Gaveta Filmes, com clientes como o próprio Jovem Nerd, Porta dos Fundos e até a Rede Globo. Esses aplicativos aproveitam-se do avanço do trabalho autônomo. Em 2020, estima-se que 40% da força de trabalho nos Estados Unidos não usará um crachá de uma empresa. Em números absolutos, são 60 milhões de pessoas. No Brasil, a proporção de autônomos é de 19,8% do total de empregados, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. A crise gerou ainda uma taxa de desemprego de 11,2% no trimestre encerrado em abril deste ano, a maior desde o início da pesquisa do IBGE, em janeiro de 2012. Não se pode negar: não faltam candidatos para fazer um bico no Brasil.
