19/01/2018 - 18:00
Foi, digamos, uma mera barreira psicológica. Mas simbólica do momento que atravessa o País. A bolsa de valores alcançou na semana passada a marca histórica, recorde, de 80 mil pontos. Algo que motivou mais e mais investidores a olharem para cá, independentemente das avaliações das agências de risco, que recentemente rebaixaram a nota brasileira. O que está pesando na roleta? Para além das indefinições políticas, o clima de retomada. Os indicadores positivos. As chances de ganhos robustos, apesar de juros em patamares agora quase civilizados. Analistas descartam de maneira unânime as chances de uma bolha no pregão.
Em outras palavras: não acreditam que esse seja um movimento furado, sem sustentação, que possa estourar lá adiante. Foram 14 recordes seguidos de setembro para cá e já há quem fale em quebra da barreira de 90 mil pontos. Não é para menos. Há uma enxurrada de empresas na fila para abrir capital. As operações de IPOs até aqui no radar somam algo da ordem de R$ 10 bilhões. Com grupos de todas as áreas de atividade e regiões – inclusive de fora do eixo Rio/São Paulo. Empreendimentos de shopping-centers, redes farmacêuticas, lojas de brinquedos, companhias de seguro e de saneamento. Há de tudo e em variadas dimensões para atrair apostadores ávidos por lucro.
O cenário global positivo também tem reforçado as projeções de crescimento interno. Há uma onda de euforia no ar que deve estimular, inclusive, o comércio internacional com reflexos na balança – que já sinaliza superávit recorde em 2018. O único risco, por enquanto, é a reversão de humor. Nem mesmo a indefinição eleitoral tem sido capaz de abalar a confiança dos investidores. Como ocorre em toda a atividade produtiva, também no mundo das finanças as questões de Brasília foram deixadas de lado, como algo incapaz de atrapalhar a busca por resultados do setor privado. Trocando em miúdos: a banca resolveu seguir o empresariado e dar as costas aos dissabores da política. Cansou da recessão prolongada e decidiu jogar as fichas no clima de otimismo.
Há razões concretas para tanto. A economia ganhou fôlego novo em novembro passado, como mostrou o índice do Banco Central. Verificou-se um crescimento, disseminado por vários setores, do varejo à indústria e serviços, que praticamente sacramenta um PIB de 1% em 2017 e sinaliza avanço de pelo menos 2,7% neste ano. Mesmo organizações internacionais estão recalculando, para cima, os indicadores daqui. Fica evidente que, caso os parlamentares comecem a colaborar, votando em regime de urgência reformas que há tempos já deveriam ter aprovado, o cenário será ainda mais promissor. É pagar para ver.