Uma das célebres frases do físico Albert Einstein diz que “insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Einstein morreu 25 anos antes da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), cujos dirigentes talvez desconheçam as suas ideias. Não fosse assim, eles teriam abortado a divulgação do “Programa Nacional de Emergência”, um documento que elenca 22 medidas para recolocar o País nos trilhos do crescimento, mas que, na prática, repete os erros do passado.

As sugestões, além de colocar mais pressão sobre a equipe econômica do governo Dilma Rousseff, só serviriam para aprofundar a crise fiscal. O programa econômico recebeu o aval de caciques do PT, como o ex-presidente Lula e o atual presidente da sigla, Rui Falcão, que comemoraram o aniversário de 36 anos do partido, na semana passada, sem a presença da presidente Dilma. Há algumas propostas que são até louváveis, como a ampliação do Programa Minha Casa, Minha Vida e a criação de um programa federal para pequenas obras de manutenção e reparos nos municípios. 

O problema é que, com as contas públicas no vermelho, os dirigentes sugerem a recriação da famigerada CPMF para financiá-las. Importante voz empresarial, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) já avisou que, se necessário, irá às ruas para combater essa iniciativa, que é defendida por Dilma. No mesmo contexto de cofres vazios, soa demagógica e populista a proposta do PT de reajuste de 20% nos valores do programa Bolsa-Família. “É uma completa loucura”, afirma Tharcisio Souza Santos, professor de economia e finanças da FAAP.

“Elevar os gastos públicos vai piorar o déficit, que já está explosivo.” O Programa Nacional de Emergência defende ainda a “revitalização” do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), recompondo sua carteira para R$ 70 bilhões, ao ano. Em 2016, a previsão é de apenas R$ 30,7 bilhões. De fato, é papel do poder público fomentar o investimento em momentos de crise, quando o setor privado se encolhe e engaveta projetos (leia artigo na pág. 66). O problema, nesse caso, é que os recursos para turbinar o PAC não viriam do empenho do governo em enxugar a máquina pública, sabidamente inchada.

Segundo a proposta do PT, a verba sairia da “utilização de parte das reservas internacionais”, que atualmente totalizam US$ 357 bilhões, e seria destinada a obras de infraestrutura, saneamento, habitação, renovação energética e mobilidade. “A queima de reservas pode ser interpretada pelo mercado como uma medida desesperada do governo e gerar um ataque especulativo contra o País”, afirma Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo. “Com um cenário internacional nebuloso e imprevisível, não é hora de o País se desfazer de sua proteção cambial.”

Na lista de sugestões do PT para reaquecer a economia, há também a “forte redução da taxa básica de juros”. Essa estratégia, que fez parte da chamada “Nova Matriz Econômica”, foi adotada no primeiro mandato da presidente Dilma, quando os juros básicos caíram para o menor nível da história: 7,25% ao ano. Os resultados foram uma explosão inflacionária, acima de 10% ao ano, e um elevado nível de endividamento das famílias brasileiras. “Se baixar os juros na marra, o governo vai dobrar a aposta numa estratégia que já deu errado”, afirma Gamboa.

“Não é hora de estimular a economia através do consumo.” A cereja do bolo indigesto do PT trata da política externa, com a defesa de uma “aceleração da integração regional da América do Sul”. “Nós passamos anos abraçando a Cristina Kirchner (ex-presidente da Argentina) e dando tapas nas costas de Evo Morales (presidente da Bolívia)”, diz Santos. “A consequência foi a perda de enormes oportunidades em mercados realmente relevantes, como o americano e o europeu.”