Há pouco mais de uma semana, Jack Dorsey celebrou seu aniversário de 39 anos com estilo. Acompanhado da mãe, Marcia, o CEO e fundador do Twitter tocou o sino da Bolsa de Nova York na abertura de capital da Square, empresa de pagamentos móveis. A startup criada pelo empreendedor em 2009 não fez feio em sua estreia. A empresa captou US$ 242 milhões e suas ações fecharam o pregão com alta de 45%. No mesmo dia, 19 de novembro, os papéis da Match Group, dona de sites e aplicativos de relacionamentos como o Tinder, alcançaram uma valorização de 23% em seu primeiro encontro com os investidores na Nasdaq.

Visto sob esse ângulo, é uma excelente notícia para as novatas da bolsa. Mas se analisarmos os dados com uma lupa, há algo de podre no reino das aberturas de capital (IPO, da sigla em inglês) das startups de tecnologia. As ofertas iniciais ficaram aquém da avaliação das duas companhias no mercado privado. A Square estreou com a ação fixada em US$ 9, inferior à faixa de US$ 11 a US$ 13, definida em seu prospecto. O preço também ficou abaixo dos US$ 15,46 estipulados na última rodada de investimento recebida pela companhia, em 2014.

Com os papéis negociados entre US$ 11,90 e US$ 12,12 na semana passada, o valor de mercado da Square está em US$ 3,9 bilhões. Antes do IPO, era de US$ 6 bilhões. A Match Group, do chairman Greg Blatt, perdeu US$ 3 bilhões de seu valor ao precificar sua oferta no nível mais baixo da faixa predeterminada de US$ 12 a US$ 14. A companhia está avaliada em US$ 3,5 bilhões. Mais que exemplos isolados, os dois casos retratam o clima de fim de festa dos IPOs de tecnologia nos Estados Unidos. Historicamente uma das meninas dos olhos de Wall Street, o setor desacelerou sua marcha em 2015.

Neste ano, foram 27 aberturas de capital no país, com uma captação de US$ 8,8 bilhões, segundo a consultoria americana Dealogic. O número contrasta com os dados de 2014, quando houve 62 ofertas públicas e uma captação de US$ 40,8 bilhões. Um dos destaques naquele período foi o Alibaba, empresa chinesa de comércio eletrônico, que atraiu US$ 25 bilhões e protagonizou o maior IPO da história. “O mercado está demonstrando claramente que as últimas rodadas de investimento privado em algumas companhias foram exageradas”, diz Lise Buyer, sócia da Class V Group, consultoria do Vale do Silício que presta assessoria em IPOs.

Segundo a consultoria americana CB Insights, 588 novatas do setor estão avaliadas em mais de US$ 100 milhões cada uma. Esse grupo atraiu US$ 64,2 bilhões em 2,7 mil rodadas de financiamento. Desse montante, 38,4% foram aplicados em 2014. “Dada a oferta quase ilimitada de investimento privado, muitas empresas optaram por adiar seus IPOs”, diz Lise. Companhias como o aplicativo de transporte Uber e o Airbnb, de aluguel de casas e apartamentos, estão preferindo ganhar musculatura longe da marcação cerrada do mercado de capitais a cada trimestre.

O desempenho das ações pós-IPO é mais um fator que reforça a desconfiança de Wall Street. Em 2015, o retorno sobre o preço inicial das estreantes de tecnologia é de 2,67%, segundo dados compilados pela Dealogic para a DINHEIRO. O índice foi de 12,53% em 2014. O pacote de quem não se deu bem inclui nomes como a MaxPoint (-85%), de publicidade online; a Apigee (-58%), de software de infraestrutura; a Etsy (-46%), marketplace de artesanato; a Box (-4%) de software de infraestrutura; e a Pure Storage (2%), de armazenamento de dados.

O CEO da consultoria CB Insights, Anand Sanwal, escreveu em relatório que algumas empresas estão pagando o preço pela alta expectativa criada a partir de suas valorizações infladas. “Quando elas não têm um desempenho perfeito, são rapidamente descartadas”, diz Sanwal. “É assim que o mercado funciona.” Para Lise Buyer, a despeito de um mau começo, a chave para essas companhias é o uso que farão das cifras que captaram em suas ofertas. Ela cita o Facebook como exemplo.

“O IPO deles foi um desastre em muitos aspectos”, diz. “Mas a empresa soube usar os recursos e, hoje, seu resultado fala por si só.” Em 2012, a rede social de Mark Zuckerberg captou US$ 16 bilhões em seu IPO na Nasdaq e foi avaliada em US$ 104 bilhões. Nos primeiros dias de pregão, a empresa iniciou uma trajetória de queda, que culminou na desvalorização de mais de 50% dospapéis, na faixa de US$ 18. Hoje, as ações estão na casa de US$ 106 e o valor de mercado em US$ 298 bilhões.