Para alguns, o cronograma da Copa do Mundo 2014 e da Olimpíada 2016 segue às mil maravilhas, o retorno dos investimentos será garantido e a projeção do Brasil como modelo de eficiência, uma certeza. Desse lado do campo se alinham desde o ministro do Esporte, Aldo Rebelo – com o endosso da presidenta Dilma, que diz que o País é “insuperável” –, governadores estaduais e até membros do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Do outro, não como adversários, mas como experientes gestores que identificaram falhas de planejamento e de operação, estão em especial os empresários, temendo que um rotundo colapso – dos sistemas de transporte, da estrutura hoteleira e dos variados serviços necessários – se reflita sobre o desempenho de seus negócios. 

 

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Muitos deles apostaram pesado no evento Copa que deverá galvanizar as atenções de mais de 3,5 bilhões de expectadores pelo mundo e movimentar ao todo cerca de R$ 180 bilhões. A divergência de expectativas levanta duas questões fundamentais: qual dos dois lados está mais próximo da realidade e como aproximar as duas visões? Em um passeio pelas obras de infraestrutura em andamento é possível notar argumentos a favor e contra cada uma das correntes. Os estádios de futebol, por exemplo, com obras aceleradas, parecem ter andado no trilho, alguns deles prestes a serem concluídos – caso do Maracanã, que fez uma estreia pomposa há alguns dias, e do Mané Garrincha, de Brasília. 

 

No plano dos aeroportos, portos e linhas de metrô, a situação é dramática. Como maiores hubs de distribuição de passageiros para o País, os aeroportos do Rio de Janeiro e de São Paulo são o retrato claro de que problemas ocorrerão inevitavelmente e de maneira assustadora. O caos já é uma constante nos dias de hoje, com filas intermináveis nos check-ins e guichês da polícia, malas extraviadas, pistas insuficientes, congestionamento de aeronaves, etc. E o tempo para superar tamanha carência é mínimo. “Será que as autoridades não viram que os nossos maiores aeroportos estão um lixo? Qualquer um que passa por ali sabe, é um horror!”, desabafou um inconformado executivo de multinacional presente ao Fórum, que prefere o anonimato. 

 

O organizador do evento e presidente do Lide, João Doria Jr., seguiu no mesmo tom, lembrando que, mesmo após a concessão, hoje em Guarulhos se leva ao menos 15 minutos para uma escada encostar na aeronave e desembarcar os passageiros. “O Brasil é um primata em termos de aeroportos. Tem os piores da América Latina. Uma verdadeira vergonha nacional, unanimidade irrefutável. Alguém acredita que até junho de 2014 tudo estará resolvido em 12 aeroportos brasileiros?”, disse Doria Jr. O desafio do empresário está amparado em casos concretos. A média de espera para a decolagem dos aviões nos horários de pico no aeroporto de Brasília, para citar um entre os mais alarmantes, varia de 20 a 40 minutos. 


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Calheiros e Wagner no fórum: discussão da Lei Geral da Copa em ritmo acelerado no Congresso

e relatos de experiências de sucesso no campo das chamadas Parcerias Público-Privadas (PPPs)

 

Tempo que poderá dobrar durante a Copa, caso nada seja feito que atenue a superlotação ou amplie a malha de pistas. O ministro Rebelo, que durante a convenção na ilha baiana foi metralhado por perguntas e cobranças de toda ordem, relacionou números sonoros. Falou em investimentos de R$ 24 bilhões em andamento. De uma taxa de retorno da ordem de 10%, do recrutamento de um milhão de voluntários, da geração de 3,6 milhões de empregos (entre Copa e Olimpíada) e da convicção de que a Copa será um paradigma capaz de mudar a história da Nação. “O grande diferencial do Brasil é o ativo da simpatia, do gesto”, divagou ele. Não convenceu muitos. Executivos como o presidente da Procter & Gamble, Alberto Carvalho, pediu pressa. 

 

Disse Carvalho que, assim como na Olimpíada de Londres – em que seu grupo atuou como um dos maiores promotores dos jogos –, na Copa de 2014 a P&G irá entrar forte, com algo em torno de R$ 100 milhões em investimento. Nos últimos 13 anos, a empresa cresceu mais de dez vezes no mercado interno, recrutou quase 11 mil colaboradores (98% dos quais com nível superior) e encara o momento como decisivo para catapultar a marca na região. Tanto que, ainda durante o Fórum, em reunião fechada com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, chegou a encaminhar entendimentos preliminares para a construção de mais uma fábrica naquele Estado. Esse apetite em abocanhar oportunidades é a tônica entre empreendedores. 

 

Muitos deles se envolveram nas chamadas Parcerias Público-Privadas (as PPPs) em várias obras da Copa. Mas estão preocupados com o risco de que boa parte da responsabilidade quanto ao que vai dar certo ou errado recaia sobre eles. No time de autoridades que estiveram em Comandatuba – e poucas vezes se viu tantas delas reunidas para tratar do tema –, a tentativa de gerar essa impressão parecia clara. Lembrou o ministro Rebelo que de cada um dólar investido pelo setor público outros 3,4 dólares deverão vir do setor privado. Em outras palavras: jogou no colo dos empresários que a maior conta do sucesso ou insucesso estará nas mãos deles. O vice-presidente da República, Michel Temer, se disse otimista e confiante de que a empreitada dará certo. 

 

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Temer, Carvalho e Esteves: o vice-presidente se disse otimista a partir dos relatos de empresários

que estão investindo pesado na Copa 2014

 

O presidente do Congresso, Renan Calheiros, tratou de enaltecer que o Parlamento está fazendo a parte dele, acelerando a discussão da Lei Geral da Copa. O mesmo discurso feito por Eduardo Alves, presidente da Câmara. Mas é nos estados-sede que a experiência concreta das PPPs está se dando e o testemunho dos governadores trouxe ao Fórum uma ideia realista do atual estágio das relações entre o setor público e a iniciativa privada. “Aqui nossas parcerias com OAS, Odebrecht e outras estão transformando o cenário da mobilidade urbana local. 

 

Para o metrô, que é uma daquelas novelas de 12 anos, finalmente saiu um acordo”, pontuou o governador Jaques Wagner, da Bahia, informando que 34 quilômetros de linhas entraram em licitação, com investimentos de R$ 1 bilhão da União, outro R$ 1 bilhão do Estado e mais R$ 1,3 bilhão de aporte privado. Eduardo Campos, de Pernambuco, franco candidato à Presidência da República, afirmou que dois terços dos recursos necessários para os projetos de mobilidade urbana já foram antecipados e que o estádio de futebol, com recursos de R$ 850 milhões, ficará pronto em junho próximo. O governador mineiro, Antônio Anastasia, tratou de motivar empreendedores, avaliando que a Copa é “um gatilho estimulante”, com visibilidade sem precedentes aos que estiverem envolvidos. 

 

No seu estado ele destacou o plano do corredor exclusivo para ônibus ao custo de R$ 100 milhões e previsão de entrega até junho de 2014, véspera da abertura dos jogos. Marconi Perillo, de Goiás, mesmo não governando um dos estados-sede, disse acreditar em ganhos paralelos com a exposição do País no mundo. Há, claro, no ambiente privado quem vislumbre perspectivas alvissareiras em sintonia com o que as autoridades propagam. Enxergando o “copo meio cheio, e não meio vazio”, como disse, e traçando um preciso quadro da realidade econômica atual, o banqueiro André Esteves, presidente do BTG Pactual e escolhido como dirigente empresarial do ano pelo Lide, foi destaque no Fórum ao listar as vantagens comparativas do Brasil. Ele deixou a impressão de que é possível superar o fosso de atrasos e sair da bola dividida a partir de um esforço conjunto. É torcer para que ele esteja certo. 

 

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