Desde que se aposentou, em meados de 2008, o fundador da Microsoft, Bill Gates, se dedica à filantropia. Nesse período, seus assuntos prediletos são educação e a erradicação de doenças em países pobres, como a malária e a Aids. Nos próximos dez anos, a Fundação Bill e Melinda Gates, criada pelo bilionário de Seattle, tem planos de investir US$ 10 bilhões no desenvolvimento de vacinas e remédios. Na semana passada, no entanto,  Gates resolveu colocar o seu dinheiro em um assunto polêmico e explosivo: a energia nuclear. O segundo homem mais rico do mundo anunciou uma parceria com a China para o desenvolvimento de um novo tipo de reator nuclear, que promete ser mais barato, mais seguro e gerar muito menos lixo. Para isso, ele está disposto a gastar do próprio bolso até US$ 1 bilhão nos próximos cinco anos. A parceria envolve a estatal chinesa de energia nuclear CNNC e a TerraPower, empresa com sede em Washington, que Gates ajudou a fundar em 2008. “Tivemos boas conversas com a CNNC e com várias pessoas do governo chinês”, disse Gates. 

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Usinas nucleares: segundo homem mais rico do mundo pede mais investimentos em energias limpas

O ponto central do projeto é uma tecnologia desenvolvida no início dos anos 1990 chamada “Traveling Wave Nuclear Reactor”. Ao contrário dos modelos tradicionais de geração de energia por meio do enriquecimento de urânio, esse método utiliza o próprio lixo gerado no processo como combustível. O material nuclear utilizado é consumido inteiramente durante o ciclo de vida do reator, que pode ultrapassar uma centena de anos. O anúncio de Gates acontece em um momento em que o mundo rediscute o uso da energia nuclear para fins pacíficos, desde o acidente da Usina de Fukushima, no Japão, em razão do tsunami que arrasou o país, em março deste ano. Depois disso, as autoridades alemãs decidiram fechar as usinas nucleares. Oito instalações já foram desligadas. As demais terão o mesmo destino até 2022. 

Apesar disso, Gates parece cada vez mais interessado no debate. Em artigo publicado na edição de novembro da revista Science, ele criticou o governo americano pela falta de empenho no desenvolvimento de fontes de energia limpas. Para ele, os Estados Unidos deveriam triplicar o total gasto com esse tipo de tecnologia, valor que, atualmente, não passa de US$ 5 bilhões por ano. Em seu apelo para que os Estados Unidos invistam mais em energias limpas, Gates afirmou que a falta de visão dos congressistas americanos pode deixar o país à margem das novas tendências mundiais no que se refere a economias de baixo carbono. “Os Estados Unidos estão em ótima posição para liderar as inovações no setor de energia”, disse Gates. 

 

“Mas o governo precisa dar uma mão.” Esse debate sobre os investimentos federais em energias renováveis ganhou força a partir de setembro deste ano, quando a fabricante de painéis solares Solyndra entrou em processo de falência. A bancarrota da companhia teria sido apenas mais uma notícia ruim, não fosse o fato de ela ter recebido um empréstimo do governo de US$ 500 milhões. O subsídio fazia parte de um pacote de estímulo para empresas de energia, lançado pelo presidente Barack Obama, em 2009, que beneficiou mais de 40 companhias. Os republicanos acusaram o presidente democrata de liberar o empréstimo por questões políticas. Ao que parece, o assunto será recorrente durante a campanha para as eleições presidenciais que acontecem no próximo ano.