Uma revolução aconteceu no mercado de educação superior no Brasil no novo milênio. Financiada pelo interesse de investidores internacionais e fundos nacionais como o Pátria Investimentos, uma consolidação criou grandes grupos cotados em bolsa, como o Kroton Educacional e o Estácio, e estimulou a chegada de players americanos como a Laureate, Apollo Education e DeVry, além do fundo Advent International, ao setor.

Eles aproveitaram o aumento da demanda dos brasileiros por inscrições em cursos universitários, que, em uma década, passaram de um porcentual de apenas 9% dos jovens na faixa etária de até 24 anos matriculados para um total de 15% – ainda assim, isso significa metade do índice de um país como o México. Mas, recentemente, uma nova onda de investimentos tem acontecido. Os protagonistas da vez são nomes bem conhecidos dentre os bilionários brasileiros. Entre os mais notáveis, estão os de Jorge Paulo Lemann, Abilio Diniz, Gilberto Sayão e Julio Bozano.

Também, diferentemente da onda anterior, os fatores motivadores para os novos investimentos costumam ir além de apenas embolsar ganhos econômicos vindos de um setor aquecido – apesar de não haver nada de errado nisso – ou, no espectro oposto, de fazer doações por meio de organizações sem fins lucrativos. “Nem sempre o investimento na área resultou em melhoria de qualidade”, afirma Denis Mizne, CEO da Fundação Lemann. “Alguns grupos buscaram no setor apenas uma oportunidade de negócios.

Ao mesmo tempo em que as fundações se focam em ajudar o governo.” Ao entrar no negócio, os bilionários têm demonstrado em suas investidas uma preocupação com o desenvolvimento da educação brasileira e com a consequente evolução do País que poderá vir disso. “A educação é uma questão que não dá para ser resolvida sozinha, apenas pelo governo”, diz Angela Dannemann, superintendente adjunta da Fundação Itaú Social. Segundo dados divulgados em dezembro pelo Grupo de Institutos Fundações e Empresas, 89% dos investidores sociais brasileiros voltaram esforços para a educação, em 2014, quando o investimento social atingiu a ordem de R$ 3 bilhões – um valor equivalente ao orçamento do Ministério da Cultura.

Tome o exemplo de Jorge Paulo Lemann. Ele é reconhecido, há muitos anos, por apoiar estratégias de apoio à educação por meio da sua Fundação Lemann, voltada à melhoria do ensino público, e da Fundação Estudar, que oferece bolsas de estudos para jovens talentosos. Mas o mais rico dos brasileiros também se voltou para a criação de dois fundos de investimentos no setor. Foi o primeiro investidor no Gera Venture Capital, que investe em empresas nascentes na área de tecnologia ligada à educação.

Desde 2011, o fundo já fez aportes em diversas startups como Geekie, Rota dos Concursos, Starline, MindLab, Kaltura e Mangahigh. Do interesse de comprar o colégio Pensi, do Rio de Janeiro, em 2013, o Gera deu origem ao Eleva Educação, direcionado ao ensino básico, um nicho que os especialistas acreditam que sofrerá uma onda de consolidação similar à ocorrida na educação superior. O fundo já recebeu mais de R$ 100 milhões para a compra de seus três primeiros colégios, que incluem o carioca Elite e o mineiro Coleguium, para a criação de um sistema de ensino e de um curso on-line preparatório para o Enem.

Abilio Diniz apareceu nesse cenário, em 2014, quando comprou uma participação da GAEC Educação, dona da marca Anima. A empresa voltou às manchetes em dezembro, quando anunciou uma grande aquisição, da Sociesc, instituição de ensino superior de Joinville, por R$ 150 milhões e mais R$ 30 milhões em dívidas. Já o banqueiro Julio Bozano preferiu criar fundos de private equity para o setor. A Bozano Investimentos abriu um fundo de R$ 800 milhões, que tem como maior cotista o grupo alemão de mídia Bertlesmann, e que anunciará o seu primeiro negócio no início de fevereiro.

Também investe, por meio de outro fundo, de R$ 65 milhões, em empresas de tecnologia para o setor. Outra grande força do mundo dos private equity nacionais, o Vinci Capital, de Sayão, se aliou ao americano Carlyle Group para comprar, em outubro, a Uniasselvi, uma força do ensino a distância, por R$ 1,1 bilhão, que pertencia à Kroton. Com o dinheiro irrigando o setor e o interesse de grandes empresários em transformar e modernizar a gestão da área, é natural que um ecossistema de negócios se crie em volta. O consultor Vicente Falconi, um guru de gestão de diversos grandes nomes da economia brasileira, abriu em novembro passado uma divisão de sua consultoria para o ensino.

A recém-criada Falconi Educação deve aproveitar a demanda de empresários, e mesmo dos órgãos públicos, que pretendem aprimorar a operação de suas redes de ensino. “O setor privado qualifica o investimento”, diz Wilson Risolia, ex-secretário de educação do Estado do Rio de Janeiro e que lidera a Falconi Educação. “Ele traz governança, segregação do risco e transparência. Sem educação boa, a conta para o País vem com produtividade baixa, com as pessoas produzindo pouco e de forma custosa.” É uma sorte do Brasil que alguns de seus principais bilionários concordem com isso.