A compra da fabricante de peças aeroespaciais Precision Castparts pela Berkshire Hathaway, empresa de investimentos do bilionário americano Warren Buffett, por US$ 37 bilhões, na segunda-feira 8, sinaliza duas importantes tendências. A primeira é a de que a economia americana está em plena retomada, o que vem impulsionando grandes negociações. A segunda mostra que, embora tenha protagonizado a maior aquisição da sua história empresarial, Buffett vem enfrentando crescentes dificuldades para encontrar no mercado oportunidades que atendam a todos os seus critérios. Conhecido por fazer investimentos em empresas estáveis, que atuam em mercados previsíveis, caso, por exemplo, do setor de alimentos, o megainvestidor tem emitido  sinais de que o caminho para atingir seus objetivos pode mudar. A meta, no entanto, continua a mesma: criar empresas gigantes e líderes absolutas de mercado. 

O valor pago pela Precision foi considerado justo pelos analistas financeiros. O risco envolvido no negócio, por outro lado, se mostra mais alto do que Buffett costuma aceitar. “Eu não sou louco de comprar uma empresa como essa em um momento no qual o mercado financeiro está aquecido”, afirmou o investidor Jeff Matthews, autor de um livro sobre a sucessão de Buffett, ao jornal The New York Times. O perigo, segundo Matthews, está nos altos e baixos enfrentados pela empresa em seus principais mercados, o de aviação comercial e o de óleo e gás. O faturamento da  Precision, que chegou a US$ 10 bilhões em 2014, vem sendo impactado pela queda no preço do petróleo. Trata-se de um cenário bem diferente do enfrentado por outras grandes empresas do portfólio da Berkshire, como a fabricante de alimentos Heinz, cuja aquisição, em 2013, por US$ 23,6 bilhões, foi feita em parceria com a 3G Capital, dos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. No mês passado, a Heinz e a Kraft anunciaram um acordo de fusão, que formou a quinta maior empresa de alimentos do mundo. 

Essa mudança está relacionada ao tamanho da Berkshire. Com mais de US$ 60 bilhões em caixa, antes da mais recente aquisição, opções do porte da Heinz estão rareando. A saída é apostar em mercados sem um grande líder, e ir construindo uma gigante aos poucos. Para isso, Buffett aposta no que chamou de aquisições “acessórias”: compras menores feitas diretamente pelas controladas da Berkshire. “Nós vamos ficar nesse mercado pelo próximo século”, afirmou o investidor.  “Não importa o preço do petróleo.” Nos últimos dez anos, o CEO da Precision, Mark Donegan, que vai continuar no comando, realizou mais de 40 negócios. Já havia uma previsão de gastar US$ 5 bilhões em aquisições, nos próximos anos. Ou seja, a filosofia de Buffett continua a mesma. Mas, se a oportunidade não aparecer, o jeito é aumentar o risco e crescer aos poucos.