19/10/2013 - 7:00
Quando o piloto alemão Sebastian Vettel entra no cockpit de seu Fórmula 1, leva “de carona” para a pista os engenheiros da equipe Red Bull, responsáveis por avaliar o desempenho, durante a corrida, do carro do provável tetracampeão da categoria. E isso só é possível graças ao sistema de telemetria instalado no bólido. Através dessa espécie de Big Brother o chefe da equipe sabe se Vettel está pisando fundo no acelerador e avalia o ritmo de desgaste dos pneus e do consumo de combustível a cada volta. Levada para as estradas de todo o mundo pela Mercedes-Benz, essa tecnologia, batizada de FleetBoard, comum a bordo dos caminhões, recebeu um decisivo incremento no Centro de Desenvolvimento e Pesquisa da subsidiária brasileira da gigante alemã.
Cadê a caçamba? André Weisz (à esq.) e Walter Sladek, os pais do novo FleetBoard
Além de toda informação sobre o desempenho do veículo e a performance do motorista, o sistema “made in Brazil” terá rastreadores e dispositivos de segurança do caminhão – uma preocupação natural num mercado em que são frequentes os assaltos e roubos de carga. A nova geração do FleetBoard envolveu o trabalho de 25 engenheiros dos 600 profissionais que atuam no País. “Nasceu aqui, para o Brasil, mas será exportada para o mundo”, disse em português fluente o vice-presidente de desenvolvimento da Mercedes-Benz do Brasil, o alemão Walter Sladek.
O executivo, que desembarcou em São Paulo há oito anos, acredita que os próximos mercados que devem receber a nova geração do FleetBoard serão a Rússia e a África do Sul, que, assim como no Brasil, têm no roubo de cargas uma das maiores causas de dor de cabeça dos operadores logísticos. Por aqui, o prejuízo gerado pela ação dos bandidos é estimado em R$ 1 bilhão por ano, de acordo com Manoel de Sousa Lima, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de São Paulo. Sousa Lima, que preside o conselho de administração da RGLog, com frota de 350 caminhões e receita anual de R$ 200 milhões, diz que gasta 3% do faturamento com a segurança da carga transportada.
“É pouco, porque não movimentamos produtos visados, como medicamentos, eletroeletrônicos e alimentos”, afirma. “Mas as empresas que atuam com esse tipo de mercadoria chegam a desembolsar 10% do seu faturamento.” Foi pensando nesse filão que a equipe de engenheiros da Mercedes-Benz incluiu essas funcionalidades na nova geração do sistema, criado em 2002 na Europa e que começou a ser vendido por aqui em 2010. O FleetBoard vai ser integrado em toda a linha vendida no Brasil – até agora, eram instalados apenas nos veículos maiores. “É a grande tendência tecnológica do mercado de caminhões pesados, assim como foi o GPS para os automóveis”, afirma o consultor Carlos Reis, da Carcon Automotive, de São Paulo.
Segundo Sladek, da Mercedes-Benz, o novo sistema começa a ser vendido no primeiro semestre do ano que vem e poderá ser usado somente em veículos novos, com a motorização EuroV. O executivo explica que a tecnologia empregada na segunda geração do equipamento “conversa” somente com a eletrônica embarcada nos caminhões de fabricação mais recente. Além disso, a montadora vai firmar uma parceria com empresas especializadas em rastreamento no País para usar a infraestrutura de rede e transmitir as informações aos clientes que instalarem o sistema FleetBoard. A companhia escolhida deve ser a Autotrac, do ex-piloto de F1 Nelson Piquet.
“Montamos uma start-up dentro do nosso negócio principal, que é a produção de veículos comerciais”, diz o diretor da divisão FleetBoard no Brasil, André Weisz. Atualmente, não há essa integração da frota de 2,5 mil caminhões equipados com o sistema e as empresas de rastreamento. Segundo Weisz, o Brasil é o terceiro mercado mais importante para os alemães neste nicho, atrás de Alemanha e Inglaterra. “São mercados mais maduros e nos quais introduziremos a nova geração da tecnologia em 2015,” diz.
A nova geração do FleetBoard é apenas um dos projetos de alcance global forjados nas pranchetas do Centro de Desenvolvimento, baseado em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, no complexo que abriga os escritórios e a fábrica de caminhões e ônibus da companhia no Brasil. Dali saiu, por exemplo, a cabine do caminhão semipesado Atego Euro VI, destinado somente ao mercado europeu. Com o FleetBoard e outras inovações, a equipe comandada por Sladek trabalha para tornar o caminhão da marca mais parecido com um Fórmula 1 – pelo menos em tecnologia embarcada.