Começo este artigo com um alerta: vou defender o executivo Aldemir Bendine, virtual ex-presidente da Petrobras. Faço sem sentir qualquer desconforto. Estive com ele, no máximo, três vezes. E todas quando ainda estava no Banco do Brasil. Nesses 15 meses de Petrobras, ele nunca atendeu aos nossos insistentes pedidos de entrevista. Perdeu a chance de ser mais transparente em sua gestão e dar, aos nossos leitores, informações sobre como trabalhou e o que fez pela Petrobras.

Mesmo com essa lacuna, típica de quem trabalha sobre o fio da navalha, tem Dilma como chefe e evita se expor, é inegável que os esforços de Bendine foram na direção de recuperar uma companhia machucada por lesivas administrações. Quando assumiu a Petrobras, no início de fevereiro de 2015, Bendine não recebeu aplausos, embora os merecesse pela coragem de assumir uma empresa com problemas que pareciam sem solução. A Petrobras estava no fundo do poço – e não era para retirar petróleo do pré-sal.

Cercado de desconfianças, muitos acreditavam que ele tinha sido colocado ali para preservar os interesses do governo petista, que, no caso, eram os desvios de caixa e o superfaturamento de contratos. Alertamos nessas páginas que, embora política, sua indicação não era fisiológica. E, entre todas as opções que estavam na mesa de Dilma naquele momento, Bendine era o único com uma credencial adquirida no comando do Banco do Brasil que tinha tudo para se mostrar importante nos meses seguintes: ele entendia bem como lidar com os interesses do governo e do mercado financeiro. E teve coragem de assumir o maior abacaxi do País.

Em seus primeiros meses, Bendine teve de se concentrar na publicação do balanço auditado de 2014. Ele assinou o que a ex-presidente Maria das Graças Foster deixou para trás: um prejuízo de R$ 21,6 bilhões no período. Só em fraudes e superfaturamento, causados pelo Petrolão, a perda chegou a R$ 6,2 bilhões. A seriedade desse trabalho para encontrar dados que justificavam as perdas foram bem-vistas por todos os públicos. Mas a nova realidade do setor de óleo e gás e a situação econômica do Brasil não aliviaram a vida de Bendine.

O preço médio do barril de petróleo caiu de US$ 70 para US$ 45 e o real se desvalorizou cerca de 25% sobre o dólar. O resultado foi um novo prejuízo, de R$ 34,8 bilhões, e um endividamento que se aproxima de R$ 500 bilhões. Ele sai da Petrobras com a marca de dois prejuízos bilionários. Sua passagem pelo comando da Petrobras também tem controvérsias. Bendine tentou recuperar o orgulho ferido da equipe técnica, que havia sido colocada de lado para atender aos interesses de apadrinhados políticos.

Incomodou muita gente: cortou cargos, reviu posições, realizou promoções. Seus detratores lhe deram o apelidado de TQQ. O significado, segundo reportagem de Malu Gaspar, na revista Piauí, é por Bendine dar expediente no Rio de Janeiro apenas às terças, quartas e quintas-feiras. Ele também teve alguns desentendimentos nas reuniões do Conselho de Administração com o presidente Murilo Ferreira, que acabou saindo. Bendine entrega para Pedro Parente, ex-chefe da Casa Civil do governo FHC, uma Petrobras bem melhor. Se a empresa estava em frangalhos, agora não está mais.

O legado de Bendine é positivo, apesar das críticas que recebeu e, certamente, receberá de quem teve interesses contrariados. Sua saída foi inevitável nesse processo de reconstrução política do Brasil. Bendine sai como o técnico que tirou a equipe do rebaixamento, mas teria dificuldades para colocá-la no caminho do título. Para o presidente Temer, Parente é o nome certo para a segunda fase do campeonato. Não por acaso, ele pediu e manteve no cargo o diretor financeiro Ivan Monteiro, nomeado por Bendine, com quem trabalhou no BB. Num ambiente hostil dentro e fora da empresa, a dupla fez a Petrobras voltar a ter fluxo de caixa positivo. Não é pouca coisa.