Quem visita o estaleiro da Intermarine Yatchs, em Osasco, na Grande São Paulo, é surpreendido de várias maneiras. Primeiro, pelo endereço. Fabricar barcos longe do mar não parece uma ideia sensata. Mas a localização não é empecilho para o crescimento constante da empresa desde que ela trocou de donos, em 1984, quando a marca foi comprada pelo empresário Gilberto Ramalho da família Fontoura, famosa por seu biotônico. Aficionado por lanchas offshore, de alta perfomance, com as quais participava de competições, Ramalho era cliente da Intermarine quando vislumbrou a chance de incorporá-la a seus negócios no ramo de autopeças. Nas mãos do novo dono, a Intermarine não parou de crescer. Sempre inovando no segmento de embarcações de luxo, a empresa obteve a licença para produzir no Brasil modelos da italiana Azimut e se tornou referência ao combinar tecnologia de ponta e cuidado artesanal nos iates que projeta e fabrica.

A segunda surpresa é o tamanho das instalações em Osasco. Com mais de 50 mil m2 de área construída (a Intermarine tem outro estaleiro no Guarujá, litoral paulista, onde finaliza os iates), a fábrica constrói cerca de 40 embarcações por ano, vendidos a preços que variam de R$ 6 milhões a R$ 40 milhões. Exceto pelos motores, comprados de fabricantes especializados, tudo é feito ali, em seis minifábricas que dão vida a cada componente, do casco aos estofados, passando pelas instalações elétricas, hidráulicas e mecânicas. Por isso mesmo, a Intermarine pode oferecer a cada cliente todo tipo de customização, do mobiliário à tapeçaria.

ELEGÂNCIA Com a assinatura do designer Luiz de Basto, o 24 M, de 78 pés, é o maior e mais refinado dos iates fabricados pela Intermarine em Osasco (SP). (Crédito:Divulgação)

Por mais que a localização e o gigantismo do estaleiro surpreendam, nada se compara ao fato de a empresa ser comandada, há uma década, por uma mulher de apenas 29 anos. Filha caçula e do segundo casamento de Gilberto Ramalho, Roberta perdeu o pai em um acidente de helicóptero, em 2009. Então adolescente, ela precisou de um tempo para se recuperar do choque. Mas aos poucos tomou coragem para assumir o controle da companhia. “Os melhores momentos que eu tive na vida foram a bordo”, afirmou Renata à DINHEIRO. “Quando eu nasci, em 1993, meu pai já era dono da Intermarine. Mas uma coisa é nascer na empresa, outra bem diferente é assumir a liderança.”

Enquanto cursava economia, Roberta foi se envolvendo com cada etapa da indústria que seu pai havia expandido ao disseminar o uso de lanchas e iates como opção de lazer para as famílias. “A melhor faculdade que eu poderia fazer foi o próprio negócio. O estilo de vida da minha família sempre esteve ligado ao produto que a gente fabrica”, disse. “Meu pai deixou uma equipe excepcional na Intermarine.”

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ALTA DEMANDA Mantendo o DNA da empresa, Roberta fez o estaleiro crescer. Em 2021, ela foi alvo de uma investigação sobre supostas irregularidades fiscais. Nem isso impediu o estaleiro de lançar iates maiores. O 24 M (de 78 pés) tem assinatura do designer Luiz de Basto, angolano radicado em Miami que é referência mundial no setor. Agora, a grande inovação da Intermarine é equipar barcos não tão grandes com o mesmo nível de requinte antes só encontrado nos modelos de ponta. Segundo o diretor de marketing, Rafael Paião, a nova linha HDF “equivale ao que é a AMG para os carros da Mercedes”. Ou seja, um patamar superior em termos de luxo e performance. A sigla para high demand features foi adotada nos modelos 580 HDF e 640 HDF, que a Intermarine entende ser um novo passo em sua busca pela excelência. “Nos estruturamos como indústria para oferecer o que de melhor o cliente demandar. O brasileiro é exigente e jamais quer ouvir um não”, disse Roberta.