Os banqueiros de investimentos que apostaram que as aberturas de capital de 2013, conhecidas como Initial Public Offerings, ou IPOs, poderiam captar de R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões podem começar a comemorar. Essa cifra, arrojada em comparação com os R$ 3,9 bilhões de 2012, começa a dar sinais de se tornar realidade. A razão é o que já vem sendo considerado o IPO do ano. A oferta da BB Seguridade, empresa de seguros, previdência e capitalização do Banco do Brasil, pode movimentar, sozinha, até R$ 12,2 bilhões. Somado aos quase R$ 600 milhões já captados com as estreias de Linx e Senior Solution, o lançamento da BB Seguridade elevou o total para R$ 12,7 bilhões nos quatro primeiros meses do ano. 

 

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Agência do BB, em Brasília: Capilaridade é o maior trunfo da seguradora

 

Edemir Pinto, CEO da BM&FBovespa, havia antecipado à DINHEIRO, no início de março, que 2013 poderia superar o recorde de 2007, quando ocorreram 64 operações de aberturas de capital. De acordo com Osmar Sanches, diretor da consultoria Lafis, o mercado está carente de papéis novos e o segmento de seguros é bem atrativo. “O setor vem apresentando taxas de crescimento superiores a 10% ao ano”, afirma. O BB vai vender 500 milhões de ações ordinárias da BB Seguridade, podendo ofertar mais 175 milhões de papéis nos lotes suplementar e adicional. Será o maior IPO no País desde os R$ 14 bilhões levantados pelo Santander Brasil em 2009 (ver tabela). O início das negociações está marcado para 25 de abril. 

 

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O lançamento do Fundo Imobiliário, em dezembro de 2012: ampliação do mercado

 

O preço final dos papéis, estimado entre R$ 15 e R$ 18, deve ser conhecido no dia 23, após o período de coleta de intenções de compra de investidores no Brasil e no Exterior, conhecido pelo termo inglês “book building”. O BB Banco de Investimento será o coordenador líder da oferta, em conjunto com J.P. Morgan, Bradesco BBI, Itaú BBA, BTG Pactual, Citigroup, Votorantim e Brasil Plural. Vale a pena comprar esses papéis? Na opinião dos analistas, papéis novos dão fôlego ao mercado, e o sucesso dessa operação pode ser um divisor de águas para a bolsa, atraindo novas companhias ao pregão. Ao comprar as ações da BB Seguridade, o investidor pode ficar com a parte boa do BB – sua enorme capilaridade – e evitar a parte ruim, a pressão do governo sobre os bancos para baixar juros e tarifas, o que corta os lucros.

 

Os profissionais envolvidos no lançamento não podem se manifestar devido às restrições da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas, de acordo com Gilberto Braga, professor do Ibmec, a operação é favorecida por chegar com a chancela do Banco do Brasil. “O lançamento tem tudo para ser um sucesso”, afirma Braga. Segundo ele, guardadas as devidas proporções, a oferta lembra o sucesso do Fundo Imobiliário BB Progressivo II na Bolsa, que captou R$ 1,6 bilhão na estreia e duplicou o número de investidores desse tipo de fundo. O próprio BB captou R$ 9,7 bilhões em julho de 2010. Desde então, suas ações subiram 22,9%, ao passo que o Índice Bovespa recuou 9,55% nesse período. 

 

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“Acredito que teremos uma procura muito maior que a oferta, e que o preço deve fechar muito próximo do teto”, diz Braga. Já Ricardo Torres, diretor da consultoria Norfolk Advisors e professor da Brazilian Business School (BBS), é mais cauteloso. “A capacidade do mercado de levantar R$ 12 bilhões existe, mas não de uma só vez”, afirma Torres. Segundo ele, a operação será bem-sucedida, mas é bastante provável que o total captado fique abaixo do máximo previsto. “O preço mínimo de R$ 15 já está alto”, diz Torres. “Isso reduz o potencial de ganho para o investidor, e, em consequência disso, o interesse do mercado.” 

 

Apesar de discordarem quanto ao valor da oferta, Braga e Torres concordam que a BB Seguridade é uma boa empresa, opera em um setor atraente e possui um grande potencial de crescimento. Para Torres, no entanto, o investidor deve ficar atento aos riscos do mercado. Segundo Braga, investir no IPO é indicado para o investidor com uma visão de longo prazo. “Quem espera retorno rápido deve pensar duas vezes”, afirma. Ele lembra que dificilmente se repetirá a situação anterior a 2008, quando muitos IPOs deram bons retor­nos na estreia, como a alta de 52% no dia do lançamento das ações da Bovespa no pregão, em outubro de 2007. “Isso não existe mais”, diz Braga. “Quem compra um IPO hoje deve esperar rentabilidade de médio e longo prazo.”

 

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