22/01/2016 - 20:00
Do entusiasmo que se formou em torno do presidente da Argentina, Mauricio Macri, em Davos, é possível entender como o Fórum Econômico Mundial, realizado anualmente nos Alpes suíços, é considerado um termômetro do humor do PIB mundial. Com ideias pró-mercado, o recém-eleito líder latino foi uma das estrelas do encontro, onde reúnem-se 2.500 líderes globais – entre os quais os principais executivos de multinacionais. Macri selou a lua-de-mel com os investidores que vinham flertando com a hipótese de uma nova Argentina.
Sua história, porém, é uma exceção entre os emergentes, que passaram a figurar a ponta de decepção na reunião suíça e agora são apontados como principais responsáveis pela desaceleração econômica. A China é a maior das preocupações. Em quase todos os painéis, empresários procuravam pistas sobre o grau de desaceleração do motor asiático e os potenciais efeitos sobre seus mercados. No ano passado, a Chine cresceu “apenas” 6.9%. Não há, contudo, símbolo maior de desânimo do que o Brasil.
Na mais recente projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI), o País é apresentado como o grande vilão da atividade, com expectativa de mais um ano de recessão (-3,5%), enquanto o mundo deve avançar 3,4%. Chance de crescimento só em 2018. Na Suíça, o Brasil representou a via oposta da Argentina, ao figurar um papel de coadjuvante no fórum, um sinal das dificuldades adiante nas tentativas de angariar recursos no exterior. “Em Davos não se assina nenhum tratado, nenhum acordo, mas é onde os países conseguem desenvolver narrativas”, afirma Oliver Stuenkel, coordenador do MBA de Relações Internacionais da FGV.
Nos anos 2000, o presidente Lula e sua equipe usaram a plataforma para endossar a tese de paz com os mercados e consolidar a ideia de um país em ascensão, comprometido com a abertura e com uma agenda pró-crescimento. Em 2014, Dilma Rousseff estreou sua participação com o mesmo propósito. Sem a presidente, a presença do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, nesta edição foi recebida com apatia, por representar um governo que reluta em abraçar reformas. “A única coisa que ele poderia fazer era tentar convencer a comunidade internacional de que há uma tentativa de reverter a crise”, diz Stuenkel.
“Ele não conseguiria vender uma história positiva.” Uma pesquisa da PwC com presidentes de empresas instaladas no Brasil mostrou que 72% enxergam mais riscos para a economia em 2016 do que há três anos e apenas 24% acreditam que sua companhia terá um desempenho positivo. No mundo, esse percentual sobe para 35%, ainda assim no menor nível desde 2010. Na Suíça, Barbosa se esforçou para convencer um mar de incrédulos. Em painel divido com o Nobel de economia Joseph Stiglitz, o ministro admitiu um processo de mudança estrutural e fez questão de ressaltar a importância do Estado.
“O mercado é um bom motor do crescimento, mas produz muita volatilidade”, afirmou. “O governo precisa liderar o caminho, não necessariamente sendo o ator principal, mas o coordenador de todas as forças.” Sobre a queda das commodities, Stiglitz deu um recado ao brasileiro. “É preciso escapar da armadilha dos recursos naturais, diversificando a economia”, afirmou o Nobel. “Estamos na Suíça e aqui não há recursos naturais. Há pessoas, houve investimento em pessoas.” O conselho serve a todo o grupo de ex-portadores de commodities que engrossam o bloco da desaceleração global, uma turma barrada no baile de Davos.