27/04/2011 - 21:00
O mercado para as empresas que planejam estrear na Bolsa de Valores por meio de uma oferta pública inicial (Initial Public Offering, ou IPO, em inglês) parece estar de portas abertas em 2011. A expectativa é que este seja um ano memorável para as estreantes. Até agora seis companhias tocaram o sino no pregão pela primeira vez, cifra igual à do mesmo período de 2010.
No entanto, o total captado caiu quase à metade, de R$ 7,8 bilhões em 2010 para R$ 4,06 bilhões este ano, entre ofertas primárias e secundárias, sem contar a oferta de R$ 1 bilhão da rede de lojas Magazine Luiza em andamento. A queda sublinha a preocupação dos empresários. O desempenho ruim da Bovespa, a forte volatilidade dos mercados em todo o mundo e maior seletividade dos investidores vêm desestimulando os lançamentos.
Benclowicz, da Franchising Ventures: pretende comprar empresas antes de vender ações
Os números mostram essa preocupação. A auditoria Grant Thornton realizou uma pesquisa com 11 mil empresas em todo o mundo, obtida com exclusividade pela DINHEIRO. Os resultados mostram que, de 104 companhias brasileiras, apenas 7% planejam lançar ações nos próximos três anos. Em 2010, esse percentual era de 15%. “Os investidores querem pagar menos, por isso os empresários não têm tanta vontade de abrir capital”, diz Laércio Soto, sócio da Grant Thornton. Atualmente os setores mais inclinados a entrar na bolsa são os de varejo, um dos mais beneficiados com o crescimento doméstico, o da infraestrutura e o da indústria manufatureira.
Ofertas bem-sucedidas como a da Arezzo, que até há pouco estimulavam outras companhias a fazer o mesmo, já não provocam tanta vontade de ir ao mercado. O sucesso da emissão da família Birman é um dos fatores que motivam a abertura de capital da Franchising Ventures, holding que possui dez franquias.
Menos inveja: ofertas bem-sucedidas como a da Arezzo (cima) já
não estimulam tanto os empresários a tocar o sino na Bolsa
“Emissões de companhias com perfis parecidos com o nosso, como a Hering e a Localiza são um exemplo para nós”, diz Sérgio Benclowicz, diretor da holding. No entanto, ele diz não ter pressa. A meta é faturar R$ 325 milhões em 2011, um avanço de 30% em relação a 2010, e ir crescendo por meio de aquisições. Abrir capital só a partir de 2013, até para oferecer um agrado para as redes que serão adquiridas. “Queremos que os futuros sócios também ganhem com a oferta em bolsa”, diz Benclowicz.
Outra companhia que prefere esperar é a Carmen Steffens, empresa de calçados de Franca, no interior de São Paulo. “Nós decidimos no segundo semestre do ano passado que lançaríamos ações em bolsa, mas antes disso vamos procurar um investidor capitalista”, diz Mario Spaniol, presidente do grupo que possui 160 lojas no Brasil e 21 no Exterior, em nove países.
À caça de investidores: Spaniol, da Carmen Steffens, vai buscar um sócio antes de abrir capital
A prudência é justificável. Em 2007, a demanda por ações era tão grande que os investidores compravam qualquer papel a qualquer preço. Não por acaso, a maioria das emissões daquela época rendeu menos que os juros. Escaldados, os compradores estão mais seletivos e os empresários devem tomar cuidado, apesar de terem banqueiros de investimento atiçando-os continuamente. “As empresas estão em um momento de aprendizagem”, diz Soto.
Foi essa precaução que levou a empresa Liz Cimentos a desistir do processo. Em período de silêncio, a companhia limitou-se a informar que adiou a emissão “em decorrência da atual conjuntura do mercado”. Caso semelhante ocorreu com a companhia de saneamento privado Cab Ambiental. Controlada pela Galvão Engenharia, ela já havia encomendado o champanhe para comemorar o lançamento de suas ações no Bovespa Mais, mercado da bolsa destinado a empresas menores.
A ideia era captar R$ 135 milhões, mas a piora na situação internacional fez a Cab cancelar tudo aos 45 minutos do segundo tempo. “A crise da Líbia e o desconhecimento dos investidores de saneamento privado atrapalharam nossa emissão”, diz Yves Besse, presidente da empresa. O valor pedido por ação era entre R$ 11 e R$ 14, mas as ofertas recebidas ficaram bem abaixo disso. “Vamos tentar de novo quando o mercado melhorar e quando estivermos mais bem preparados para falar com os investidores”, diz Besse.