Os novos comandantes dos bancos federais – BB, Caixa e BNDES –, que o ministro da Fazenda Henrique Meirelles ficou de anunciar na segunda-feira 16, terão uma tarefa árdua pela frente. Eles terão de passar a limpo a estratégia dessas instituições, e, pior, fazer isso em um cenário adverso. Depois de serem os protagonistas mais importantes do movimento de expansão do crédito para as pessoas físicas realizado entre 2004 e 2012 (caso do BB e da Caixa), e de terem sustentado grupos brasileiros na política de criação dos “campeões nacionais” entre 2007 e 2013 (papel do BNDES), os bancos agora enfrentam escassez de capital, piora das condições de crédito, retração da economia e inadimplência elevada. Não dá mais.

Apenas a Caixa, banco fundamental na regulação do crédito imobiliário, precisa de uma injeção de capital de R$ 20 bilhões para manter-se competitiva, segundo estimativas da consultoria Roland Berger. “A Caixa opera em um mercado de massa e atende os clientes de menor renda, mas apresenta a pior relação entre as receitas de serviços e os custos operacionais dentre os maiores bancos”, diz António Bernardo, presidente da Roland Berger.

No caso do BNDES, a política dos “campeões” ajudou a construir sucessos, como JBS e Fibria, mas amargou fracassos, como a “supertele” brasileira – as ações da Oi perderam 99,3% de seu valor nos últimos cinco anos. É hora de capitalizar e melhorar a eficiência dos bancos públicos. Bernardo avalia que a situação de capital do BB e do BNDES é mais confortável. Ao divulgar seus resultados na quinta-feira 12, o vice-presidente de gestão financeira do BB, José Maurício Pereira Coelho, afirmou que um dos pontos fundamentais do banco será reforçar o capital, tendo em vista as exigências do acordo de Basileia, que limita a alavancagem de um banco em relação a seu patrimônio.

Não será fácil. No primeiro trimestre, o BB anunciou um lucro líquido de R$ 2,36 bilhões, queda de 26% ante os R$ 2,61 bilhões de 2015. A causa da queda foi a inadimplência. O assunto requer atenção, e, em uma entrevista coletiva na manhã da sexta-feira 13, Meirelles foi direto ao ponto. “Os bancos estatais têm de cumprir suas finalidades básicas, que são conceder empréstimos e transformar poupança em investimento”, disse ele. Segundo o novo ministro, ao pinçar os nomes dos novos comandantes das instituições federais, a exigência será grande.

“Os executivos podem até ter filiações partidárias, mas terão de ter conhecimento técnico e passarão por um crivo pessoal meu”, disse Meirelles, que presidiu bancos no Brasil e nos Estados Unidos. Essa experiência será necessária. Tão fulcrais para a economia quanto o próprio Banco Central (BC), os bancos federais ampliaram sua participação no mercado ao longo dos 13 anos de governo do PT.

Em dezembro de 2002, eles originaram um de cada três reais emprestados pelo sistema financeiro. Em dezembro de 2015, essa proporção havia crescido para quase metade do total (observe o gráfico abaixo). Mesmo antes da troca de comando, o BB mostrou que já está respirando os novos ares. “Não vamos procurar aumentar nossa fatia de mercado”, disse Coelho, ao anunciar os resultados. Procurados, o BNDES não comentou o assunto e a Caixa não respondeu às solicitações de entrevista.

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