Há 20 anos, uma das ambições da equipe econômica, em especial dos técnicos da área de comércio exterior, era de que o Brasil rompesse a barreira de US$ 100 bilhões em exportações – à época, não passava de US$ 80 bilhões. A meta não apenas foi batida com folga como, desde 2010, as vendas externas se mantêm no patamar acima de US$ 200 bilhões. Para 2013, a perspectiva é fechar em cerca de US$ 250 bilhões. Ocorre que, ao mesmo tempo que o Brasil conseguiu atingir esse feito extraordinário, o País viu sua cesta de produtos e o destino dos embarques mudarem significativamente. 

 

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Nó logístico: principal rota de escoamento das exportações, o porto de Santos

mal dá conta da demanda

 

Os manufaturados perderam espaço para as commodities, enquanto os Estados Unidos foram superados pela China, no posto de maior parceiro comercial. Levando-se em conta o acumulado janeiro-novembro, as estrelas de pauta de exportação são os itens básicos, como minério de ferro, soja e açúcar. Os automóveis aparecem na nona posição da lista. Se para alguns especialistas os números indicam que o País está em meio a um processo de desindustrialização, para outros mostra-o bem posicionado no comércio global. “A vantagem do Brasil é dispor, em grandes quantidades, do que boa parte dos concorrentes não possui”, afirma o economista e professor da BBS Business School, de São Paulo, Ricardo Torres. 

 

A lista inclui soja, carnes e minério de ferro, itens que estão no topo das importações chinesas. Apesar disso, Torres argumenta que o modelo de crescimento está repetindo os erros de países como Estados Unidos, que apostaram na agricultura e nos serviços, abrindo mão da área industrial. “A Alemanha, a França e a Inglaterra estão saindo mais rapidamente da crise, porque dispõem de indústrias fortes.” A recuperação das exportações e a diversificação da pauta, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), dependem de iniciativas que estão além da capacidade dos empresários. 

 

A entidade estima que a balança do setor de manufaturados deverá fechar o ano com déficit de US$ 108 bilhões, resultado da diferença entre a venda de US$ 90,7 bilhões e a importação de US$ 199,5 bilhões em produtos. “As medidas de estímulo adotadas até agora tiveram o mesmo efeito prático de se colocar ‘bandaid’ em um tumor”, diz o diretor de relações internacionais da Fiesp, Thomaz Zanotto. Para reverter a situação, ele defende ações capazes de recuperar a competitividade da indústria local. A começar pela abertura de linhas de crédito com juros similares aos cobrados lá fora. 

 

Além disso, o professor Torres, da BSB, lembra que o Brasil precisa se integrar de uma forma mais consistente às cadeias globais de produção e desenvolvimento, o que depende de fortes investimentos em inovação. “Para recuperar nossa competitividade temos de modernizar as indústrias e reduzir seus custos de produção”, afirma Torres. Uma das apostas para reduzir a dependência do Brasil em relação às commodities, em geral, e da China, em particular, além de abrir novas frentes para as exportações brasileiras, é a celebração de acordos multilaterais. A bola da vez é a parceria entre o Mercosul e a União Europeia, cujas negociações devem ser retomadas em janeiro e se tornaram uma obsessão para o governo federal. 

 

De acordo com a Agenda de Integração Externa, documento elaborado pela Fiesp com sugestões para melhorar o comércio exterior, atualmente os maiores clientes de produtos manufaturados feitos no Brasil são os vizinhos da América Latina. Nada menos que US$ 33,6 bilhões, ou 84% dos US$ 40,2 bilhões obtidos com as vendas para a região, em 2012, foram conseguidos com itens dessa categoria. Trata-se de um número maior do que a soma dos embarques de manufaturados para os Estados Unidos, a União Europeia e a China: US$ 33,4 bilhões. “O Brasil ficou de fora dos recentes acordos que têm feito o redesenho do comércio global”, afirma Zanotto. “Agora, só nos resta acelerar o passo.”

 

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