Anunciada na segunda-feira 26, a fusão entre duas bolsas eletrônicas americanas, a Bats e a Direct Edge, vai modificar muito o cenário para o mercado financeiro americano, com repercussões no Brasil. A fusão, cujos valores não foram revelados, criou a segunda maior bolsa americana em volume. O porte da nova empresa, que vai continuar com o nome Bats, se aproxima do da tradicional Nyse Euronext e vai superar o do mercado eletrônico Nasdaq. A fusão marca a maior etapa no processo de consolidação dos ambientes digitais de negociação – nos quais os computadores substituíram os operadores de pregão e, em muitos casos, das próprias gestoras – criados por bancos e grandes corretoras independentes, na tentativa de quebrar o duopólio da Nyse e da Nasdaq. 

 

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Pregão da Nyse: a tradicional líder de Wall Street agora enfrenta concorrentes mais jovens

 

O que motivou o fechamento do negócio foi a compressão das margens de lucro. Desde 2009, o volume de ações negociadas nos Estados Unidos caiu 36%, de 8,6 bilhões para 6,3 bilhões de papéis por dia. Nesse mesmo período, a margem de lucro nas transações de alta frequência encolheu 80%. Bats e Direct Edge têm donos muito parecidos. Elas são controladas por corretoras que operam em alta frequência – realizando milhares de transações por segundo – e por bancos como JP Morgan Chase e Goldman Sachs. Cada uma delas possui 11% dos negócios no mercado americano. Juntas, terão 22%, acima dos 18% da Nasdaq e muito perto dos 23% da Nyse. Esse movimento é crucial na mudança do perfil tecnológico desses mercados. Ao migrarem para um sistema proprietário único, elas fornecerão mais agilidade e facilidade aos clientes. “Praticidade conta muito”, resumiu Joe Ratterman, principal executivo da Bats, que vai gerir a nova companhia.

 

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William O’Brien, da Direct Edge, será o presidente do conselho de administração. Há espaço para novos avanços. Depois do fiasco de ter saído do ar em maio de 2012, na abertura de capital do Facebook, a Nasdaq apresentou mais um problema. Quatro dias antes das concorrentes anunciarem a fusão, seus sistemas caíram por mais de três horas. A transação entre a Bats e a Direct Edge terá impacto também no mercado brasileiro. As duas bolsas tentaram, isoladamente, disputar negócios com a BM&FBovespa. A Bats fez apenas uma sondagem tímida, mas a Direct Edge vem estudando o mercado de maneira mais sistemática. Ainda há muitos pontos a resolver, como a necessidade de desenvolver uma câmara de compensação adaptada às exigências regulamentares brasileiras. Mas a fusão deverá alterar isso. A nova bolsa eletrônica ganha musculatura para custear os pesados investimentos necessários a esse desenvolvimento.