12/01/2011 - 21:00
Até outubro de 2010, o investidor que quisesse assistir de perto ao espetáculo das ações de empresas internacionais tinha de fazer seu dinheiro carimbar passaporte. No entanto, no fim do ano passado tornou-se possível a investidores domésticos fazer essas aplicações sem ter de recorrer aos tradicionais malabarismos cambiais. O segredo desse truque são os Brazilian Depositary Receipts (BDRs) não patrocinados, títulos brasileiros que representam ações de empresas de fora. Lançados há pouco mais de três meses, esses certificados permitem investir em companhias badaladas como Apple, Google, Avon e Microsoft. As duas primeiras subiram 11% em Nova York desde então.
Antes, o investidor que quisesse ser sócio de Bill Gates dependia da vontade da Apple de trazer seus papéis por vontade própria à Bovespa. Isso poderia ocorrer por meio dos BDRs patrocinados.
As companhias que quisessem listar suas ações aqui tinham de submeter-se às regras brasileiras, publicando fatos relevantes e balanços em português. Com os novos BDRs não patrocinados, as estrangeiras não participam diretamente da emissão.
Quem compra as ações em Wall Street, por exemplo, e lança BDRs correspondentes na Bovespa é um banco, aqui chamado de instituição depositária. É dele a responsabilidade de informar ao investidor brasileiro o que acontece com a empresa (veja infográfico).
Quem escolhe quais terão BDRs não patrocinados são as próprias instituições depositárias, que os negociam por meio das corretoras brasileiras. “Avaliamos os setores e a liquidez do papel.
Embora a empresa não precise autorizar este processo, também avaliamos um outro critério, que é a receptividade das companhias em ter seu papel negociado no mercado brasileiro”, diz Marcio Veronese, diretor do Citibank. A liquidação financeira e a custódia (guarda dos títulos) são executadas na BM&FBovespa, como ocorre com as ações tradicionais.
Atualmente, papéis de 20 novas empresas estrangeiras estão disponíveis, trazidas pelo Deutsche Bank e pelo Citibank. Por ora, chegaram apenas ações dos Estados Unidos, mas a bolsa quer mais.
“O próximo mercado deve ser o europeu”, diz Julio Ziegelmann, diretor de renda variável da BM&FBovespa. Há dez empresas interessadas em emitir BDRs, cuja negociação pode começar no início do segundo semestre.
Hoje, as pessoas físicas só podem comprar BDRs não patrocinados por meio de fundos de investimento que aplicam nestes papéis.Compras diretas só podem ser feitas por instituições financeiras, consultores ou administradores de carteira autorizados pela CVM.
Vale a pena? Há duas grandes vantagens. Uma delas é poder investir em papéis de classe mundial. Outra é poder aplicar no Exterior. Hoje, a economia dos Estados Unidos está mal e a do Brasil funciona a plena carga, mas isso não deve durar para sempre e o investidor pode se beneficiar de uma melhora lá fora, com o surgimento de novas atrações.
“Este programa facilita os investimentos e abre possibilidade de diversificar a carteira”, diz Elsen Carvalho, sócio da gestora Investidor Profissional. A desvantagem é que é preciso ficar mais atento aos movimentos do mercado internacional, o que exige esforços – e oferece riscos – maiores. “A exigência de conhecimento é maior”, diz Carvalho.