24/08/2012 - 21:00
Quando assumiu a presidência da Renault no Brasil, em janeiro de 2012, uma das primeiras decisões do executivo francês Olivier Murguet, 46 anos, foi criar um comitê de direção da subsidiária brasileira. Desde então, ele se reúne quinzenalmente com a diretoria local para discutir as estratégias de todos os departamentos. Nas reuniões, seus subordinados têm liberdade para opinar sobre todas as áreas da montadora. A discussão acontece sempre em português. É que, apesar de recém-chegado, o idioma nunca foi um problema para Murguet. Essa é a terceira passagem pelo País desse torcedor do Vasco da Gama. Durante a adolescência, dos 13 aos 17 anos, morou no Rio de Janeiro, acompanhando o pai, que trabalhava no consulado da França.
Murguet, presidente: ”A estratégia para crescer é ter produtos brasileiros, uma ampla rede
de concessionárias e mais capacidade de produção local.”
Entre 1996 e 1999, nova temporada no Brasil. Dessa vez, em São Paulo, como diretor-comercial da Renault, período no qual nasceu um de seus dois filhos. Agora, Murguet recebeu de seu chefe, o brasileiro Carlos Ghosn, CEO mundial da aliança Renault-Nissan, a missão de elevar a fatia de mercado da filial da faixa dos 5% para 8% nos próximos três anos, aproximando a montadora francesa da americana Ford, quarta colocada no ranking automobilístico brasileiro. “A estratégia para crescer é ter produtos brasileiros, uma ampla rede de concessionárias e mais capacidade de produção local”, afirmou Murguet à DINHEIRO. A julgar pelos primeiros seis meses de 2012, a Renault está conseguindo subir alguns degraus no mercado brasileiro.
Carlos Ghosn: o CEO mundial separou R$ 1,5 bilhão para investir no Brasil
Sua participação de mercado cresceu 0,8 ponto percentual nesse período, atingindo 6,5%. As vendas aumentaram 37% em comparação com igual período do ano passado, enquanto o mercado ficou estagnado. Os quatro primeiros colocados – Fiat, Volkswagen, GM e Ford, nessa ordem – perderam mercado nesse semestre. Esse salto da montadora francesa pode ser creditado a dois carros. Em primeiro lugar ao Sandero, que foi reestilizado em maio de 2011. Em segundo, e mais importante, ao utilitário esportivo Duster, lançado em outubro do ano passado com a presença de Ghosn. Neste ano, ele supera em vendas o EcoSport, da Ford, veículo que lidera essa categoria desde 2003.
A vida da Renault, no entanto, vai começar a ficar mais dura a partir de agora. Desde a segunda quinzena de julho, a nova geração do EcoSport começou a ser vendida no Brasil. “Sabemos que seremos afetados”, afirma Murguet. “Mas já conquistamos nosso espaço no segmento e temos um preço bastante competitivo.” O utilitário esportivo francês é cerca de R$ 5 mil mais barato do que o rival da Ford. Com esse novo cenário competitivo, Murguet estima que as vendas aumentarão 20% em 2012. Se conseguir esse resultado, elas crescerão quatro vezes mais do que a previsão de expansão do setor neste ano. “Temos uma gama completa e agora precisamos explorar mais o potencial de mercado desses produtos”, diz Murguet.
Para isso, ele conta com um cheque bem polpudo, que lhe foi entregue por Ghosn: um investimento de R$ 1,5 bilhão para ser gasto até 2015. Parte do dinheiro será usada na ampliação da rede de revendas, cuja previsão é inaugurar 40 concessionárias, atingindo 275 até o fim de 2012. Serão aplicados também R$ 500 milhões para aumentar a produção de veículos e motores, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, onde está instalada sua fábrica. Ela passará de 280 mil veículos ao ano para 380 mil. Já a produção de motores chegará a 500 mil unidades por ano, 100 mil a mais do que a capacidade atual.
“Com maior estrutura industrial é possível deixar os processos de produção mais enxutos”, afirma José Roberto Ferro, presidente do Lean Institute Brasil e especialista no setor. A Renault não está investindo apenas no aumento de capacidade fabril. Outra prioridade de Murguet é a construção de um centro de logística, no município paranaense de Piraquara, vizinho a São José dos Pinhais, até o fim do ano. A intenção da Renault é transformar a área de 200 mil metros quadrados em um porto seco para fugir da fila no porto de Paranaguá. “Nosso objetivo é ter mais autonomia para produzir e desenvolver produtos brasileiros”, diz Murguet.