07/03/2012 - 21:00
Quando tentou inserir seu serviço nos celulares, o canal americano de música Grooveshark não foi aceito pelos donos do pedaço, o Google e a Apple. Detentoras dos sistemas operacionais que dominam o mercado de smartphones, o Android e iOS, respectivamente, as duas empresas fecharam as portas ao Grooveshark por avaliar que o site veiculava conteúdo pirata. Quem também foi barrada no baile foi a revista Playboy, do macróbio americano Hugh Hefner. Isso porque a Apple não permite nudez nos seus domínios. O jornal de economia Financial Times também enfrentou obstáculos. O veículo considera absurda a taxa a que era forçado pagar para estar disponível nas lojas virtuais de aplicativos.
Para driblar esses empecilhos, Financial Times, Playboy e Grooveshark abraçaram o HTML5. Trata-se de uma nova linguagem de programação que permite criar aplicativos que rodam no navegador. Assim, eles podem chegar diretamente ao usuário, sem as regras e os pedágios de intermediários, como Google e Apple. A brecha pode ser um baque no negócio de aplicativos e já movimenta o setor de smartphones, como ficou claro na Mobile World Congress (MWC), evento internacional de telecomunicações realizado na semana passada em Barcelona. Um exemplo do ruído que o assunto está causando foi o anúncio, na MWC, da aliança entre Telefónica e Mozilla.
As duas empresas desenvolvem um sistema em HTML5 que será uma alternativa ao Android e iOS. Carlos Domingo, diretor de produtos e inovação da operadora espanhola de telefonia, disse que a parceria vai “conduzir o processo de adoção do HTML5 em toda a indústria”. Mas a principal ameaça às lojas virtuais de aplicativos vem de outro titã da web: o Facebook. O site está preparando o projeto Spartan, que instalará um recurso de venda de programas no Safari, o navegador da Apple. Ou seja, o site vai vender softwares aos 425 milhões de usuários que o acessam por dispositivos móveis debaixo do nariz da Apple.
A busca por alternativas ao sistema de lojas de aplicativos se deve ao fato de a Apple cobrar um pedágio de 30% na venda de cada programinha. Ironicamente, um dos grandes incentivadores do HTML5 foi a própria Apple. Essa linguagem ganhou os holofotes em 2010, durante uma briga dela com a Adobe. A empresa da maçã deixou de usar em seus aparelhos o Flash, da Adobe – padrão até então mais usado para vídeos. Ao mesmo tempo, resolveu adotar em seus equipamentos o HTML5, que abre conteúdo multimídia no próprio código do site. A Adobe perdeu. Hoje, os principais navegadores rodam o HTML5, o melhor caminho para driblar o pedágio cobrado, por exemplo, pela própria Apple.