O  executivo brasileiro Gumercindo Moraes Neto conheceu o fundador da Asics, Kihashiro Onitsuka, numa viagem que fez ao Japão há cerca de quinze anos. Na época executivo da gaúcha Azaléia, responsável pelo licenciamento dos calçados da marca japonesa de material esportivo no Brasil, ele se encantou com o entusiasmo com que Onitsuka falava sobre o negócio que criara em 1949, no imediato pós-Segunda Guerra Mundial, na cidade de Kobe, onde fica  QG global da Asics, e sua obsessão por entregar a melhor tecnologia e o melhor produto ao praticante de atividade física. A empatia entre eles ficou evidente quando seu interlocutor entregou ao brasileiro um livro, com dedicatória. Gumercindo Neto pensou, naquele momento, que poderia ser enriquecedor trabalhar com aquele senhor.

Quis o destino – e os headhunters – que ele estivesse entre os candidatos à assumir a presidência da empresa no País, posição que estava vaga desde março, com a ida do gaúcho Giovani Decker para o comando no Brasil da UFC, a maior organizadora de lutas de artes marciais mistas do mundo. Há duas semanas, Gumercindo Neto sentou-se na principal cadeira do quarto andar de um edifício comercial na avenida Ibirapuera, em São Paulo. Sua primeira atitude foi homenagear Onitsuka, falecido em 2007, aos 89 anos, e colocar sobre a mesa o cartão de visitas e o livro que recebeu do fundador da Asics.

Gumercindo Neto assume uma empresa que está no topo do pódio, com a liderança em vendas no mercado brasileiro de calçados para corridas. Mas sua missão não é das mais simples. Ele precisará criar uma segunda onda de crescimento no País. Desde que a Asics pôs fim ao licenciamento da marca e instalou uma filial própria aqui, em 2007, os negócios crescem em ritmo exponencial. O Brasil se transformou no quarto maior mercado da companhia, que faturou globalmente US$ 3,3 bilhões no ano passado. Embora a empresa não revele os dados por país, as Américas, região da qual o Brasil faz parte, é uma das que mais contribui para esses resultados. De uma expansão global de 9,1% projetada  para o faturamento neste ano, por exemplo, as Américas contribuirão com 13,9%. A recessão da economia brasileira não freou o desempenho regional. “Mesmo com a crise temos um ambiente favorável no Brasil, com as pessoas despertando para o esporte e se preocupando com bem-estar”, diz o novo presidente. “Aqui, vamos tirar a letra s da palavra crise e ficar com a crie.”

Criação e criatividade serão os motores para o crescimento da empresa nos próximos meses, que espera surfar a onda dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em 2016. Ao contrário de suas concorrentes Nike, Adidas e Puma, que disputaram ferrenhamente um espaço entre as seleções durante a Copa do Mundo de futebol, a Asics não viveu diretamente a frustração do torneio, que não gerou o retorno esperado. “As empresas acreditam no mercado consumidor brasileiro, mas o setor está com um otimismo contido para a Olimpíada”, diz Marina Carvalho, diretora-presidente da Associação Pela Indústria e Comércio Esportivo. Ficar longe do futebol é uma escolha da empresa japonesa, que se define como uma marca de materiais esportivos para corrida, com atuação em esportes similares, como tênis, handebol e vôlei, que exigem calçados com alta tecnologia e performance. Sem as frustrações de suas concorrentes com a Copa, a Asics aposta todas as fichas nos Jogos do Rio. “A Copa fecha o evento para as marcas não patrocinadoras e a Olimpíada tem o congraçamento e a união no seu DNA”, diz Gumercindo Neto. “É esse espírito olímpico que vai ser bastante interessante para os negócios.”

Com 30 anos de carreira no mercado esportivo, Gumercindo Neto, 61 anos, aprendeu que as boas estratégias, mesmo as mais ousadas, só acontecem com muito trabalho e dedicação. Em seu emprego anterior, na Azaléia, para fazer da Olympikus uma marca conhecida, ele orientou a equipe a encontrar o patrocínio certeiro. A decisão foi investir no Comitê Olímpico Brasileiro, em 1999, e vestir toda a delegação brasileira. Na casa nova, ele dificilmente terá de abrir novas frentes. Sua briga será pela liderança. “A Asics não quer ser boa em tudo”, diz Gumercindo Neto. “Mas inovamos para ficar na frente por, pelo menos, milésimos de segundo.”