“Razões pessoais e familiares.” Essa foi a justificativa apresentada pelo executivo Ricardo Flores para explicar por que deixou, na segunda-feira 28 de janeiro, a presidência da BrasilPrev. Sua passagem pelo maior fundo de previdência aberta do País em captação líquida de recursos, com R$ 58,6 bilhões em ativos e 1,47 milhão de clientes, durou apenas cinco meses. Flores, que antes presidia a Previ, a fundação de previdência do Banco do Brasil, será substituído na Brasilprev por Miguel Cícero Terra Lima, também funcionário de carreira do banco estatal. Flores disse à DINHEIRO que “era o momento de buscar novos rumos, após mais de 34 anos de trabalhos prestados ao Banco do Brasil” (leia entrevista ao final da reportagem). 

 

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Assunto pessoal: ”Era o momento de buscar novos rumos, após 34 anos

de serviços prestados ao Banco do Brasil” (Ricardo Flores)

 

Mas quem conhece os meandros de Brasília sabe que a queda de Flores foi o último capítulo de uma longa série de desentendimentos com o presidente do BB, Aldemir Bendine. Também funcionário de carreira do BB e homem de confiança do ministro da Fazenda Guido Mantega, Bendine tem alinhado o banco com as orientações do Planalto. Ele comandou a ampliação da carteira de empréstimos, compensando a retração dos bancos privados, além de ter se transformado, ao lado de Jorge Hereda, da Caixa, em ponta de lança do processo de redução de juros. Já Flores teve seu nome envolvido no vazamento de informações que provocaram mudanças na cúpula do BB em meados de 2012, provocando a demissão do vice-presidente de governo da instituição, Ricardo Oliveira, ligado a Bendine.

 

Embora Bendine tenha negado na época, as rusgas entre ele e Flores teriam surgido no fim de 2010, quando este presidia a Previ, fundo de pensão com um patrimônio de R$ 151 bilhões e maior acionista da Vale. Nessa condição, Flores presidia também o conselho de administração da mineradora, com a atribuição de escolher seu principal executivo. Fato ou versão, Bendine teria ambicionado suceder Roger Agnelli, que deixou a liderança da Vale em março de 2011. Versão ou fato, Flores teria barrado Bendine, o que azedou as relações entre ambos e dificultou sua permanência na Previ. Flores nega. Sua permanência foi dificultada pelo histórico de conflitos e pela troca de farpas com a cúpula do BB e sua repercussão na imprensa. 

 

“Ninguém quer ver o nome do seu plano de aposentadoria envolvido em escândalos nos jornais”, afirma uma fonte próxima da companhia. Ao que tudo indica, a vida do gaúcho Terra Lima será mais fácil. Ele conta com o apoio dos funcionários da instituição e da cúpula do governo. Em 2011, ele foi indicado por Mantega para dirigir o Banco do Nordeste, mas não assumiu o cargo devido à oposição de parlamentares nordestinos. “Ele tem mais de 30 anos de BB, é carismático, conhece bem a Brasilprev e foi o presidente interino entre Sérgio Rosa e Ricardo Flores diz a fonte. Procurados, os diretores do BB e da Brasilprev não deram entrevista. 

 

 

“Não tenho desavença com o presidente do BB”

 

Ricardo Flores falou à DINHEIRO sobre sua saída da Brasilprev:

 

DINHEIRO – Por que deixar a BrasilPrev?

RICARDO FLORES – Tomei a decisão de deixar a Brasilprev por motivos pessoais e familiares, conforme comunicado interno e à imprensa. Após quase cinco meses à frente da Brasilprev, com os excelentes resultados fechados em 2012, entendi que era o momento de buscar novos rumos, pois tenho mais de 34 anos de trabalhos prestados ao Banco do Brasil. 

 

DINHEIRO – Há alguma relação entre a sua saída e as recentes desavenças com o presidente do BB, Aldemir Bendine? 

FLORES - Não há nenhuma relação, mesmo porque não tenho desavença com o presidente do Banco do Brasil.

 

DINHEIRO – O sr. vetou o nome de Bendine para presidir a Vale quando estava no conselho da mineradora?

FLORES - A escolha do presidente da Vale ocorreu mediante consenso entre os sócios, cumprindo rigorosamente as normas do Acordo de Acionistas, por intermédio da contratação de um head hunter internacional para conduzir esse processo. Não procede a versão de que houve veto.

 

DINHEIRO – Em algum momento, o senhor se sentiu rejeitado pela cúpula da Brasilprev?

FLORES – Nunca me senti rejeitado pela cúpula da Brasilprev ou de qualquer outra instituição. No caso da Brasilprev, fui extremamente bem recebido não só por sua cúpula, mas também pelos funcionários e colaboradores da empresa. Inclusive, existem vários registros em atas de reuniões quanto à minha boa condução dos trabalhos, bem como a satisfação dos sócios com a superação de metas e os resultados.

 

DINHEIRO – O sr. foi acusado de divulgar um dossiê denunciando irregularidades no Banco Postal, Isso é verdade? Houve envolvimento de Allan Toledo, ex-vice-presidente de Atacado do BB?

FLORES - A versão que envolve meu nome no assunto da compra do Banco Postal é totalmente falsa e não encontra respaldo na verdade dos fatos. Não tive qualquer tipo de participação nesse episódio. É importante registrar que, à época, eu nem sequer fazia parte da direção do Banco do Brasil. Não tenho nenhuma informação a respeito do sr. Allan Toledo sobre o citado caso. 

 

 

Colaborou: Denize Bacoccina