26/09/2012 - 21:00
Nos anos 1990, à medida que o mundo passava por um acelerado e profundo processo de transformação, decorrente da combinação da emergência da economia digital e da globalização, o executivo Andy Grove, então presidente da Intel, cunhou uma frase famosa: “Só os paranoicos sobrevivem.” O que inicialmente poderia ser o que os franceses chamam de “boutade”, um dito espirituoso e inconsequente, transformou-se mais tarde numa espécie de mantra, repetido à exaustão por executivos e empresários nos quatro cantos do planeta. Durante muito tempo, funcionou como um alerta para as empresas em relação aos riscos, mas também às oportunidades trazidas pela derrubada das fronteiras nacionais e pelo acirramento da competição. O mercado mundial, constatou-se então, estava ao alcance de um clique e podia ser acessado praticamente de qualquer lugar.
Esse movimento transformador ganhou força, sobretudo, no final daquela década. Em 1997, quando o primeiro número da DINHEIRO chegou às bancas, o Brasil e suas empresas experimentavam em sua plenitude a profundidade do alerta do homem que construiu a gigante dos microprocessadores. Colhidas pela abertura do mercado e pelos novos paradigmas em termos de produtividade e qualidade exigidas pelo mercado, dezenas de companhias brasileiras de primeira linha mudaram de mãos. Nomes como Cofap, Metal Leve e Gradiente, até então consideradas “ilhas de excelência”, foram vendidas a grupos estrangeiros. Bancos como o Nacional, Bamerindus, Econômico e Noroeste foram liquidados ou absorvidos por concorrentes mais capitalizados e antenados com as transformações que estavam ocorrendo.
Nos dois grupos, o grau de paranoia se mostrou insuficiente para impedir sua derrocada. Esse processo, exemplo típico do que o economista austríaco Joseph Schumpeter batizou de “destruição criadora”, tem como característica o papel decisivo da inovação, capaz de gerar novos produtos que arrasam empresas velhas e aniquilam os antigos modelos de negócios. A realidade da Nova Economia, que emergiu do final do século XX, tornou cada vez mais atuais tanto Grove quanto Schumpeter. A boa notícia é que, embora ao custo do desaparecimento de centenas de companhias brasileiras, o País emergiu, nos anos 2000, com empresas mais fortes, diversificadas, competitivas e conectadas com o mercado internacional. Chegamos a formar, mesmo, as primeiras multinacionais verde-amarelas, a exemplo de grupos como o JBS, Coteminas, Gerdau e Odebrecht, entre outros.
Isso não aconteceu por acaso. Foi preciso que os brasileiros, principalmente a partir do Plano Real, de 1994, que criou as bases de uma economia mais sólida e comprometida com a estabilidade, estabelecessem um ambiente favorável aos negócios, capaz de atrair investidores estrangeiros e recompensar os empreendedores que assumem riscos e constroem riquezas. Não sem sacrifícios e sobressaltos, o Brasil foi superando algumas de suas mazelas, venceu o histórico complexo de inferioridade, assumindo um papel de protagonista de relevo no cenário mundial. Ao domar a inflação, solucionar o secular problema do endividamento externo, fazer ascender ao mercado de consumo mais de 40 milhões de pessoas em menos de um década, ganhou, definitivamente, o respeito da comunidade internacional.