O executivo indiano Ajay Banga, presidente mundial da MasterCard, é um homem sem preconceitos alimentares. Seu trabalho o faz viajar muito, e ele aproveita para conhecer restaurantes nos países que visita. Sua preferência, porém, não é pelos locais mais sofisticados. “Gosto de ir onde os moradores locais comem, porque eles fazem as melhores escolhas”, diz Banga. Além de ampliar seus horizontes gastronômicos, ele também pode observar como as pessoas pagam a conta – se em dinheiro, cheques, por meio de cartões ou com outro dos muitos meios de pagamento inovadores que estão ganhando importância no mercado. Essa é uma informação cada vez mais relevante. 

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Ajay Banga, CEO da MasterCard:

“É o cliente quem vai decidir qual tecnologia usar”

 

 

“A forma de fazer pagamentos está mudando radicalmente, e esse processo está longe de acabar”, diz ele. “Temos de nos preparar para mudanças profundas nessa área, e as novas tecnologias são apenas uma parte desse movimento.”O campo é vasto. “Travamos uma luta diária com a Visa e com a American Express pelo mercado de pagamentos eletrônicos, mas eu tenho em mente que nossas empresas processam apenas 15% dos pagamentos mundiais”, diz Banga. “Os outros 85% são pagos com dinheiro ou cheques.” Esse percentual refere-se ao número de transações, não ao seu valor. 

E é exatamente nessa miríade de pequenos pagamentos que está a mais recente frente de batalha de empresas como a t. 

 

 

 

Além dos concorrentes tradicionais, empresas de telefonia e bandeiras locais estão chegando com força nesse mercado. Por aqui, nomes como Elo, controlada por Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, e Hiper, do Itaú Unibanco, lançada no dia 2 de outubro, vão disputar uma fatia das transações locais. O mercado deve se aquecer mais com a sanção presidencial da lei que regulamentará os pagamentos eletrônicos na quarta-feira 9. A briga pelos pagamentos pode ocorrer em campos insuspeitos, como a lavanderia do seu apartamento. Uma das iniciativas da MasterCard, ainda em fase de testes, pretende transformar sua máquina de lavar roupas em um instrumento de cobrança. 

 

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Segundo Banga, em vez de comprar uma lavadora, o cliente entrará em contato com uma empresa de locação e receberá um equipamento em casa de graça. “Nós vamos instalar um chip na lavadora, que vai informar, pela internet, quando a máquina for usada, e o cliente paga apenas pelo uso”, diz Banga. “No mundo, há sete bilhões de habitantes e mais de 20 bilhões de eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos, e todos eles têm o potencial de serem instrumentos para uma transação comercial.”

Tecnologias disruptivas como essas são uma ameaça a todas as bandeiras. A estratégia de Banga é investir em diversas soluções, mesmo que muitas das apostas se revelem infrutíferas. 

 

 

 

“Não podemos nos dar ao luxo de não dispor de um recurso que venha a ser dominante em um mercado importante”, diz Banga. No Brasil, onde três em cada quatro pagamentos envolvem d­inhei­ro ou c­heques, o campo mais promissor são os cartões pré-pagos, nos quais o cliente não precisa ter uma conta bancária. O lançamento mais recente é um pré-pago vinculado aos vales-transporte de Santo André, município do ABC paulista. Segundo Luiz Almeida, vice-presidente de marketing da Super, administradora de meios de pagamento associada à MasterCard, desde o início do programa, em julho, foram distribuídos nove mil vales-transporte com a capacidade de receber créditos para serem usados em compras. 

 

 

 

Desse total, cerca de 11% foram ativados. “Trabalhávamos com uma perspectiva de apenas 10% de ativação”, diz Almeida. “Agora, vamos começar a operar em larga escala, distribuindo 50 mil cartões por mês.” Isso é apenas o começo. “O pré-pago como instrumento de inclusão financeira é uma nova fronteira do mercado no Brasil”, diz Raul Moreira, vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartão (Abecs). Em outros mercados, como a Nigéria, a remessa de recursos entre aldeias dribla a infraestrutura precária usando um cartão que é, ao mesmo tempo, meio de pagamento e de identificação. 

 

 

 

“Há dezenas de exemplos, e cada um deles é um mercado em potencial”, diz Banga. “Cabe ao cliente decidir o que prefere usar e, se ele migrar do dinheiro para um instrumento eletrônico, todos ganham.” Ele cita um exemplo em sua Índia natal. O governo indiano o procurou para resolver o complicado problema de garantir fertilizantes subsidiados para agricultores na Índia. Além de provocar reclamações na Organização Mundial do Comércio, a distribuição do produto é um pesadelo logístico. O fato de o programa incluir 600 milhões de agricultores, em sua maioria donos de pequenas propriedades, sem familiaridade com tecnologia e com pouca cultura, é uma dificuldade adicional. 

 

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Seria muito mais simples entregar dinheiro e não produtos, especialmente na forma de uma transação eletrônica. Como fazer? “Os agricultores vão receber o subsídio como um pagamento eletrônico e vão comprar o fertilizante de comerciantes locais da mesma maneira, usando as impressões digitais para autorizar a transferênca”, diz Banga. “Isso reduz os custos para o contribuinte indiano.” E também torna uma massa de clientes equivalente ao triplo da população brasileira em usuários potenciais de uma das soluções da MasterCard.

 

 

 

“A maioria das pessoas ainda não usa pagamentos eletrônicos, seja por falta de acesso, seja por desconhecimento”, diz Banga. “Se um concorrente, uma empresa telefônica, uma bandeira local ou um programa governamental trouxer mais gente para esse sistema, nós vamos ganhar, direta ou indiretamente, pois ainda há muito mercado para ser explorado.”