O que uma multinacional faria ao ver o seu segundo maior mercado, o Brasil, em crise? A americana Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, resolveu investir pesado. A companhia lancará 180 novos produtos neste ano, um recorde para a subsidiária brasileira. A ofensiva da líder no setor de eletrodomésticos no País é uma tentativa de se recuperar de um primeiro semestre difícil. “Temos confiança que o mercado brasileiro voltará a crescer, em breve, e estamos nos preparando para isso”, diz Enrico Zito, presidente na América Latina.

A retração nas vendas de eletrônicos foi de 4% no primeiro semestre deste ano. Essa queda pode ser chamada de crise?
Isso foi resultado dos problemas econômicos do País, somados à Copa do Mundo, mas não é uma crise. Já temos sinais de melhora. Quatro anos atrás já sabíamos que, principalmente a Copa, iria atrapalhar as vendas. Quem se preparou não teve problemas.

A Whirlpool estava preparada?
Tivemos um ano em linha com o que planejamos. Não vamos recuperar as perdas do primeiro semestre, mas, mesmo assim, não diminuiremos os investimentos, que somarão R$ 500 milhões neste ano. Temos confiança que o mercado brasileiro voltará a crescer, em breve. Estamos, cautelosamente, otimistas.

O que é ser “cautelosamente otimista”?
Nos planejamos apoiados em dados realistas que previam que o Brasil andaria de lado neste ano. Porém, as oportunidades continuam existindo, mesmo com a desaceleração na economia. Produtos como lava-louças, por exemplo, estão em apenas 2% dos lares. Temos muito espaço para crescer.

A Whirlpool sempre se coloca como uma empresa inovadora. Mas o que isso se reverte em vendas para a companhia?
A inovação está no nosso DNA. Precisamos conhecer e criar as necessidades. Por isso, olhamos as nossas marcas e arriscamos em áreas que não sejam óbvias para o consumidor. Temos que apostar e saber que nem tudo dá certo. Inovação também significa correr riscos.

Quais são os resultados dessa visão?
Anualmente, alocamos cerca de R$ 300 milhões para lançamentos. Teremos um recorde de 180 novos produtos em 2014. Cerca de 25% do nosso faturamento vem de inovações dos últimos dois anos.

Mas os eletrodomésticos têm uma grande vida útil. Como convencer o consumidor a comprar mais, mesmo sem precisar?
Com a própria inovação. Por exemplo, quase todas as casas no País têm refrigeradores, mas apenas 40% são frost free, que não precisam ser descongelados. Precisamos trazer benefícios para que as pessoas sintam a necessidade de trocar seus produtos mais cedo.

Até em classes com menor poder de compra?
Isso está mudando, até pelo acesso ao crédito. O consumidor da base da pirâmide também quer um produto bonito, funcional e eficiente. O desejo das classes menos favorecidas é juntar dinheiro e ter as mesmas facilidades que os mais ricos.

Houve produtos que não deram certo?
Se existem projetos que dão certo, temos muitos outros que não dão. Não posso entrar em números, mas, para nós, algo inovador tem que preencher três pré-requisitos: ter algo novo que seja relevante para o consumidor, que a concorrência não possua e, claro, que traga retorno à empresa e aos acionistas.

O brasileiro, em decorrência das turbulências econômicas, está inseguro para consumir. Como o sr. avalia essa situação?
Essa é a nossa grande preocupação. Todas os rumores fazem o consumidor ficar retraído, algumas vezes sem razão. Vivemos um momento complicado, mas é nítido o potencial para crescer.

O setor industrial, com a queda de produção, prevê demissões. A Whirlpool vai demitir também?
Estamos observando uma melhora do mercado. Já demos férias coletivas neste ano. Não pensamos em cortes.