12/04/2013 - 21:00
Ser presidente de um banco central não é para qualquer um. É do BC a árdua tarefa de guardar o valor da moeda nacional, protegendo-a dos ataques constantes do dragão da inflação, ao mesmo tempo que assegura a estabilidade dos mercados financeiros e monetários para permitir o crescimento sustentado. Poucos presidentes de BC fazem história, como Alan Greenspan, nos Estados Unidos, e Gustavo Franco, Persio Arida, Armínio Fraga e Henrique de Campos Meirelles, os defensores do Plano Real. A julgar por sua conduta nos últimos meses, o atual presidente do BC, Alexandre Tombini, corre o risco de ser lembrado como um executivo fraco, que permitiu a alta da inflação e impediu a continuidade da queda das taxas de juros, a grande conquista do governo Dilma até agora.
Alexandre Tombini: risco de ser lembrado como um presidente fraco do BC
Isso pode ocorrer se Tombini, o líder dos diretores do BC que definem a taxa básica de juros, vacilar e atender aos apelos dos especuladores do mercado financeiro e elevar a Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana. Simplesmente subir os juros para controlar a inflação, como sugeriu Tombini na semana passada, não é uma opção inteligente. Quem garante é o economista Antonio Delfim Netto, um dos conselheiros econômicos do ex-presidente Lula e, agora, de Dilma (leia reportagem aqui). Os juros não são um instrumento eficiente para conter os preços, diz Delfim: “A maior ilusão é achar que o Banco Central controla a inflação.”
Para controlar a inflação com esse remédio, o BC precisaria causar um desemprego monumental que esfriasse a demanda da nova classe média – a mesma que elegeu Lula duas vezes e fez de Dilma sua sucessora. Grande comunicador, Delfim usa o exemplo da ex-empregada doméstica que subiu na vida e, hoje, toma banho com sabonete Dove. “Você acha que existe alguma taxa de juros que a faça voltar a usar sabão de coco? Subir os juros é solução do livro-texto. Mas não é assim que funciona a economia.” Tombini, infelizmente, não tem o dom da palavra como Delfim. O guardião da moeda tem derrapado na comunicação com os agentes econômicos.
Em um momento no qual a indústria nacional patina – a produção fabril caiu 2,5% em fevereiro –, Tombini emite mensagens confusas e contraditórias. O discurso truncado desorienta o mercado financeiro, provoca dúvidas nos bancos e, como consequência, assusta o setor produtivo, que hesita na hora de acelerar nos investimentos. O que ocorreu na quinta-feira 7 de fevereiro foi um bom exemplo. O IBGE divulgou que o IPCA de janeiro registrara um aumento de preços de 0,86%, acima das expectativas. Logo depois, Tombini disse que a inflação tinha “uma resiliência forte”, admitiu que a situação “não é confortável” e afirmou que “o BC está avaliando tudo”. Frases desse tipo equivalem a uma declaração registrada em cartório de que os juros subiriam antes do previsto.
No fim de 2012, o consenso do mercado financeiro era de que a Selic encerraria 2013 a 6,25% ao ano. Apenas 22 dias antes, no entanto, o BC afirmava, no tradicional comunicado divulgado após a reunião do Copom, que “a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta”. Traduzindo: “os juros vão demorar para subir”, algo em contradição com as declarações de Tombini. Como resultado, as taxas de juros no mercado futuro apresentaram uma forte oscilação ao longo de todo o dia. “A comunicação do BC tem tido muita volatilidade”, diz Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC.
“É preciso falar menos e agir mais, evitando criar uma agitação desnecessária nos mercados.” Não foi a última derrapada na comunicação. Na reunião seguinte do Copom, no dia 6 de março, o comunicado eliminou a expressão “suficientemente prolongado”. Mais uma vez, a tradução foi “os juros vão subir logo”, algo em total contradição com o comunicado anterior. De novo, um dia de solavancos no mercado de juros, que alimentou a especulação. “O BC não pode sinalizar uma tendência que não vai acontecer depois”, afirma Clodoir Vieira, economista-chefe da corretora Souza Barros. “Isso pode causar descrédito junto ao mercado.”
Tombini tentou também corrigir uma declaração da presidenta Dilma Rousseff no dia 27 de março, durante viagem a Durban, na África do Sul. Na ocasião, a presidenta disse que não concordava com “políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico, até porque nós temos uma contraprova dada pela realidade”. Naquele dia, Dilma deixou claro que não abriria mão do combate à inflação. Tombini, ao tentar esclarecer o tema, tumultuou ainda mais o mercado. “O que eu posso assegurar a vocês é que quando, se e quando, for preciso usar o instrumento de política monetária para o controle da inflação, isso ocorrerá.”
Essas mudanças repentinas de direção e a ausência de um horizonte claro ferem a credibilidade do BC e travam projetos de investimentos. Os empresários, por exemplo, não sabem qual é o futuro do câmbio. Em 2012, o BC agiu para desvalorizá-lo. Neste ano, permitiu uma rodada de apreciação. Para quem exporta, é um cenário absolutamente nebuloso. Tombini deveria aprender com o seu colega Ben Bernanke, do Federal Reserve. Em recente comunicado ao mercado, o comandante do banco central americano deixou claro que os juros permanecerão baixos enquanto o desemprego estiver acima de 6,5%. Lá, a comunicação funciona.