23/10/2015 - 9:11
A executiva paulista Linda Murasawa, superintendente do grupo espanhol Santander, é tida como uma das mais respeitadas especialistas em sustentabilidade no País. À frente de projetos na área de energia limpa, ela viaja o mundo em busca de soluções ambientais.
O próximo destino: a COP 21, a conferência do clima, em Paris. Segundo ela, o Brasil terá um papel mais relevante a partir de agora. Acompanhe sua entrevista:
A presidente Dilma anunciou, recentemente, a meta de reduzir em 43% a emissão de poluentes até 2030. Devemos acreditar nisso?
Essa não é uma meta tão difícil de alcançar e está em linha com os números já apresentados pelo Brasil nos últimos anos. É coerente com o que já vem sendo feito. Basicamente é a intensificação do monitoramento do desmatamento da Amazônia, foco em energias renováveis, biocombustíveis e controle do agronegócio.
Por que os programas brasileiros de biocombustíveis e energia limpa têm tanta dificuldade para decolar?
A multiplicidade de geração de energia, com cada vez mais eólica, solar e biomassa, está ganhando corpo. A cada ano, o Brasil tem aprimorado seus projetos e corrigido eventuais erros. Mas estamos avançando.
A crise não pode prejudicar os projetos de sustentabilidade?
Não. Ao contrário, o momento é bom para repensar a criação de uma economia de baixo carbono. Alguns acham que uma economia assim atravanca o crescimento. Outros acreditam que gera oportunidades de crescimento. A segunda opção é a mais verdadeira.
Mas investir em uma economia limpa não custa caro?
O Santander patrocinou um estudo da COP21, elaborado pelo professor Emilio La Rovere, que projeta cenários de impactos climáticos na economia. Todos os resultados mostram que há crescimento do PIB quando há investimento em sustentabilidade. É evidente a geração de empregos, a melhoria dos índices sociais e econômicos etc.
Quais são os cenários prováveis?
No cenário número um, há uma adição de R$ 120 bilhões ao PIB até 2030. Esse é o número mais modesto. No cenário número cinco, o mais agressivo, aumentaria R$ 609 bilhões. Por isso, uma economia de baixo carbono é uma economia de oportunidades.
Como o recente escândalo envolvendo a Volkswagen, que admitiu manipular os resultados de emissão de poluentes, poderá afetar a fiscalização sobre as empresas?
Houve nesse episódio uma clara quebra de confiança. A Volkswagen manipulou uma informação considerada fundamental para muitos consumidores e, principalmente, para os governos e seus departamentos de meio ambiente. Faltou ética. Ainda é cedo para calcular os efeitos disso, mas será maior do que a grande maioria imagina. O dano à imagem da companhia é incalculável.
As empresas, em geral, estão preocupadas com a ética?
A grande maioria, sim. Não tem outra saída. As empresas sem ética irão desaparecer. Na economia global que vivemos hoje, não há espaço para mentiras, manipulações e falta de transparência.
Mas a sra. acredita que a Volkswagen, uma das três maiores montadoras do mundo, poderá desaparecer?
Acredito e espero que a empresa tire uma lição desse problema e recupere sua reputação junto aos consumidores. Reconhecer a falha e se comprometer em solucioná-la são os primeiros passos.
O que haverá de novidade na COP 21 deste ano?
A grande novidade é que, pela primeira vez, Estados Unidos e China participarão do encontro. Trata-se de uma grande conquista porque são as duas maiores economias do planeta e, na mesma proporção, os maiores poluidores.
Como o aquecimento global afetará a economia global?
Afetará de muitas formas. O que enxergo de mais dramático é necessidade de toda a sociedade, incluindo empresas e governo, de aprender a lidar com gestão de grandes catástrofes. As secas, as enchentes, os deslizamentos e reações extremas da natureza serão cada vez mais frequentes.