10/04/2015 - 20:00
Principal articulador político do governo neste ano, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, já pode voltar a dar prioridade às suas planilhas de cálculo do ajuste fiscal. Levy ganhou um reforço de peso na árdua tarefa de convencer os parlamentares da importância de se aprovar os projetos que reduzem os gastos e aumentam as receitas do governo. Depois de várias tentativas frustradas de contentar o PMDB com mudanças na Esplanada dos Ministérios, a presidente Dilma Rousseff optou por um caminho mais direto: acabou com a Secretaria de Relações Institucionais, transferiu o ministro Pepe Vargas para a Secretaria de Direitos Humanos e entregou a articulação política ao vice-presidente da República, Michel Temer, que também comanda o PMDB.
É principalmente o maior partido da base aliada, que resiste à aprovação dos projetos de interesse do governo. Não tanto pelo seu mérito, já que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é bastante sensível ao apelo dos empresários, que não querem ver o Brasil perdendo o grau de investimento nas agências de classificação de risco. O incômodo deve-se a fatores políticos, já que tanto Cunha quanto o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), culpam o governo pela inclusão de seus nomes nas investigações da Operação Lava Jato. Embora vista com ceticismo por alguns políticos, a manobra produziu resultado imediato.
Na quarta-feira 8, dia seguinte ao anúncio, Temer conseguiu que todos os líderes dos partidos da base aliada assinassem um pacto de responsabilidade fiscal. Eles se comprometeram a aprovar os projetos de ajuste e a evitar matérias que representem aumento nos gastos públicos. Um gol e tanto, que acalmou o mercado financeiro e derrubou o dólar para um patamar inferior a R$ 3,10. Apesar da evidente ocupação do espaço antes reservado aos petistas, o vice-presidente desconversou. “Não é PT e PMDB que estão na pauta, o que está em pauta é a base aliada”, afirmou Temer, após a reunião, na sede da vice-presidência, num anexo do Palácio do Planalto.
“A base toda tem de estar reunificada em torno dos projetos do governo e auxiliando nos projetos do governo.” Temer conseguiu, ainda, evitar uma nova frente de problemas. Discretamente, seis senadores de partidos aliados retiraram o apoio à criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado para investigar os empréstimos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A prova de fogo, no entanto, começa agora. Nos próximos dias, Temer vai cuidar do verdadeiro motivo das reclamações da base aliada: a nomeação dos cargos do segundo escalão.
O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que já estava afastado da articulação pela sua dificuldade de relacionamento com alguns parlamentares, deve cuidar apenas da gestão do governo. Temer disse que todos irão ajudar, mas “cada um terá suas tarefas”, ressaltando que ele não irá interferir nas funções administrativas da Casa Civil. Em outras palavras, Temer cuida da política e Mercadante do dia a dia. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) ironizou a mudança e disse que Dilma fez uma “renúncia branca” ao deixar a interlocução com os parlamentares para o peemedebista. “Hoje quem governa o Brasil não é mais a Dilma”, afirmou. O resultado da votação do ajuste no Congresso indicará se a escolha foi acertada.