O garimpo de Serra Pelada, no Pará, chamou a atenção do mundo pela grandiosidade. Afinal, nada menos que 100 mil homens chegaram a tentar a sorte procurando ouro no local, na década de 1980. A saga de Serra Pelada inspirou filmes, livros e, mais recentemente, se tornou base para a criação de uma mesa de madeira com aparência rústica, vendida por R$ 40 mil pela fabricante de móveis de design Saccaro, de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha. A obra, assinada pelo designer Roque Frizzo, é uma das estrelas da nova coleção da empresa e foi um dos destaques da edição do conceituado Salão do Móvel de Milão, ocorrida em abril.

É com peças inspiradoras como essa que o clã Saccaro vem fazendo a diferença no setor. Aqui e lá fora. Tanto no aspecto criativo quanto financeiro, em um setor ainda marcado pela massificação. Para 2015, a meta é seguir avançando em um ritmo forte. “Nossa expectativa é de crescer 15% neste ano”, afirma João Saccaro, sócio e diretor de mercado da empresa, que faturou R$ 90 milhões, no ano passado, em sua rede de 67 lojas franqueadas e corner shops (39 delas no exterior) e exporta para 15 países. Esse resultado contrasta com a situação do mercado moveleiro, em geral, cujas vendas caíram 0,9%, no ano passado, e no qual o futuro é visto como um grande ponto de interrogação.

“Ainda está difícil enxergar de forma clara o cenário para 2015”, diz Marcelo Prado, diretor da consultoria paulistana IEMI – Inteligência de Mercado, especializada no setor. Mas e o que explicaria os números da Saccaro? “Quem atua no segmento classe A, e trabalha com objetos de design não sabe o que é crise”, afirma Ivo Cansan, presidente da Movergs, entidade que reúne os fabricantes de móveis do Rio Grande do Sul. De acordo com Saccaro, parte expressiva do resultado deste ano será obtida a partir do mercado externo. A meta é abrir uma segunda loja na Cidade do México e outra em Miami. Atualmente, as exportações representam com 30% das receitas.

No Brasil, serão inauguradas três lojas, em Manaus, Fortaleza e Teresina. Cada uma delas deve representar investimento de até R$ 1,2 milhão, dependendo da localização do ponto-de-venda. A despeito da capilaridade, a Saccaro tem uma política restritiva de expansão, que começou a ser implantada no início da década 1980. “Fizemos um estudo e descobrimos que 87% de nossa produção era absorvida por apenas 15 clientes”, diz Saccaro. Esse levantamento foi base para o projeto de guinada, desenhado por ele. A primeira providência foi reduzir a carteira de clientes, de mil para apenas 50, concentrando-se apenas nos mais relevantes, passando a adotar de revendas exclusivas.