Existem dois tipos de empresa no setor calçadista brasileiro. O primeiro grupo é composto por companhias que fabricam produtos cujo principal atrativo é o preço. 

 

No segundo pelotão, despontam aquelas que possuem uma marca forte e que se transformaram no objeto do desejo de uma parcela significativa de consumidores. 

 

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Empreendedorismo: a pequena sapataria criada por Anderson Birman, 
em BH, deu origem a uma companhia que fatura R$ 650 milhões por ano

 

É exatamente nessa última categoria que se enquadra a mineira Arezzo, fundada pelo empresário Anderson Birman, em 1972, em Belo Horizonte. 

 

Na quarta-feira 2, Birman deu mais um passo rumo ao fortalecimento do negócio com o início da negociação das ações da Arezzo no pregão da BM&FBovespa. 

 

Começou com o pé direito. No primeiro dia, o papel subiu 11,84% em relação ao valor pago pelos investidores que participaram do IPO (oferta primária de ações, da sigla em inglês), saindo de R$ 19 para R$ 21,25.

 

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Esse desempenho não surpreendeu os analistas. Ao contrário dos demais empresários do segmento, a família Birman construiu uma marca de sucesso e com boa penetração no mercado global. 

 

Hoje, a Arezzo possui franquias em mais de 20 países, como Estados Unidos, França e China. Com a abertura de capital, a companhia captou R$ 502,9 milhões, dos quais ficará com R$ 477,7 milhões. 

 

A diferença será paga em comissões aos bancos e às corretoras que participaram do processo. Os recursos serão usados para fortalecer o negócio, incluindo a aquisição de possíveis concorrentes (leia quadro). 

 

“A Arezzo vive seu melhor período”, disse Alexandre Birman, filho do fundador do grupo, durante evento de lançamento das ações.“Somos uma empresa competitiva em nível global, que despacha para sua rede de lojas cinco novos produtos por dia.”

 

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Abraço paterno: Anderson Birman (à esq.) beija o filho Alexandre na 
quarta-feira 2, dia do início da comercialização das ações da Arezzo na Bovespa

 

A agilidade e o trabalho feito na construção da marca são reconhecidos pelo mercado. “A Arezzo conquistou um público fiel, graças a atributos como qualidade e design”, afirma a consultora Simone Escudêro, diretora de projetos e estudos de mercados da All Consulting. 

 

Segundo Simone, isso foi alcançado graças à adoção de um modelo de negócio muito semelhante ao da marca esportiva americana Nike, que não possui produção própria. Os sapatos, cintos e bolsas da Arezzo são produzidos em 90 fábricas, entre parceiras e licenciadas. À equipe comandada por Birman e Alexandre, cabe a tarefa de planejar as ações de marketing e cuidar do design das peças. 

 

Mais que uma grife consagrada, a Arezzo vem se mostrando uma empresa de sucesso também no quesito financeiro. No período 2007-2010, suas vendas mais que dobraram, saltando de R$ 239,2 milhões para estimados R$ 650 milhões em 2010 – o balanço anual ainda não foi divulgado. 

 

Outro indicador positivo é a margem líquida da operação, que se situa na faixa acima de 10%. “Trata-se de um resultado expressivo”, diz o consultor José Lupoli Jr., professor de marketing da Universidade de São Paulo e da Brazilian Business School. “No geral, as empresas varejistas atuam com margem em torno de 5%, dependendo do setor.” 

 

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Foram esses números que despertaram a atenção do mercado. O processo de abertura de capital começou com o ingresso do Tarpon Investment Group, que apesar do nome é brasileiro e está baseado em São Paulo como investidor. 

 

No final de 2007, o fundo comprou 25% do capital da empresa. O negócio teve como desdobramento a fusão das operações da Schultz, rede de calçados mais sofisticada comandada por Alexandre, com as da Arezzo. 

 

Isso explica o salto de 92,1% verificado na receita naquele ano, em relação a 2006. Agora, com o caixa recheado, a expectativa do clã Birman é seguir na trilha do crescimento.