15/12/2010 - 21:00
Quem manuseia o ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), por certo vai se surpreender ao se deparar com indicadores como venda por metro quadrado. É que, ao contrário do que se poderia supor, quem lidera esse quesito entre as dez maiores redes não é nenhuma gigante global, como a francesa Carrefour ou a americana Walmart.
Muito menos a brasileira Pão de Açúcar. Na verdade, quem dá as cartas nesse item é o supermercado carioca Prezunic, que, com apenas 30 lojas, deverá fechar 2010 com receita de R$ 2,4 bilhões.
Ele consegue isso graças a um modelo de atuação que reúne as duas pontas do setor varejista. Desde itens de conforto típicos de lojas destinadas à classe A (como ar-condicionado e piso de granito, por exemplo) até a agilidade dos supermercados da vizinhança. Mais: seu portfólio de produtos conta com até 20 mil itens diferentes, dependendo do bairro em que a loja está localizada.
Andréa, presidente do Prezunic: sob seu comando, a empresa se tornou referência do segmento e deve fechar 2010 com vendas de R$ 2,4 bilhões
Trata-se de uma arma importante em um mercado tão peculiar como o do Rio de Janeiro. Antes de abrir a filial de Botafogo ou da Barra da Tijuca, regiões que concentram os cariocas abonados, a direção do Prezunic mandou fazer pesquisas sobre os hábitos de consumo local.
Descobriu que para ser bem-sucedido seria preciso contar com uma extensa linha de produtos importados, como o champanhe Veuve Clicquot, além de cortes nobres de carne bovina (como os da brasileira Bassi), sem se descuidar, contudo, dos itens da cesta básica.
Nas lojas situadas na Baixada Fluminense, onde predominam as classes C e D, o segmento de bebidas também é privilegiado. O que muda é a forte participação de marcas nacionais. “Mas a decoração sofisticada e os demais itens de conforto estão presentes em todas as nossas lojas”, diz à DINHEIRO Andréa Cunha, presidente e herdeira do Prezunic.
Em um ambiente extremamente machista, a rede também surpreende por ser a única comandada por uma mulher. Essa bela morena de 34 anos, cabelos castanhos, olhos claros e cerca de 1,70 metro de altura se preparou para ocupar o posto ao longo dos últimos 17 anos em que trabalhou na rede Continente, fundada pelo pai, Joaquim Cunha, em 1991.
A empresa, com as bandeiras Rainha e Modelo, dos irmãos de Cunha, foi repassada ao Carrefour por US$ 381 milhões em 2000. Os franceses batizaram o negócio de Champion e convidaram Andréa para dirigir a área de marketing. Ela ficou apenas um ano. “Foi um período difícil.
Eles não conseguiram entender o consumidor carioca”, diz ela. Graduada em administração pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ), Andréa foi a principal mentora do Prezunic. O nome foi ideia do pai, que se inspirou na rede francesa Presunic (com a letra S).
Criada há oito anos, a rede viu seu faturamento saltar de R$ 210 milhões, em 2002, para os R$ 2,4 bilhões previstos para 2010. “As lojas situadas em bairros dominados por endinheirados respondem por cerca de 40% de nossa receita total”, conta Genival Beserra, diretor comercial do Prezunic.
É por isso que a unidade de número 31, que será inaugurada em 2011, está sendo erguida na divisa da Barra da Tijuca com o Recreio dos Bandeirantes. O crescimento já começou a despertar a atenção da concorrência. “Recebemos algumas sondagens”, conta Andréa. “Mas dessa vez não estamos dispostos a nos desfazer do negócio”, adianta ela. O rápido crescimento também foi facilitado pelo fato de o Prezunic ter recuperado muitos dos pontos de venda das extintas bandeiras Modelo, Continente e Rainha, alugados o Carrefour.
Da rede atual, metade integra esse pacote. “Eles estão presentes em bairros estratégicos, que reúnem consumidores emergentes e também integrantes das classes A e B”, destaca o consultor Ricardo Scaroni, professor de marketing de varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing.
“O Prezunic soube explorar como poucos dois aspetos marcantes do carioca: o bairrismo e a busca por conveniência”, completa o consultor Marcelo Assumpção, coordenador do curso de MBA em gestão comercial da Brazilian Business School.