15/02/2012 - 21:00
Um dia depois de a companhia aérea American Airlines (AA) pedir concordata, em novembro do ano passado, o executivo americano Thomas W. Horton, 50 anos, foi alçado ao cargo de CEO, no lugar de Gerard Arpey. “Fui pego de surpresa”, disse ele à DINHEIRO. Na cadeira mais importante daquela que já foi a maior aérea do mundo – e atualmente é a terceira –, Horton, cujo hobby é pilotar, inclusive Boeings 777, da própria AA, terá de arregaçar as mangas para que a gigante volte a voar. A escolha de um executivo da área de finanças, como Horton, diz muito sobre o que os acionistas esperam do novo comandante para diminuir a dívida de US$ 29,6 bilhões: cortar, cortar, cortar.
Thomas Horton, ceo da American Airlines: ”Vamos renegociar as dívidas,
os contratos de leasing e trabalhistas para tornar a empresa mais eficiente”
Mas ele diz que fará isso sem prejudicar o crescimento da companhia. “Claro que é necessário fazer ajustes, mas queremos continuar crescendo”, afirma (leia entrevista ao final da reportagem). Para saber exatamente onde precisava passar a faca, ele decidiu ver de perto os problemas. Desde que assumiu o cargo, viajou 20 vezes para os principais destinos da empresa. “Quis ouvir as equipes locais para saber em que podia mexer”, diz. No ambicioso plano de recuperação, a empresa espera poupar anualmente US$ 3 bilhões até 2017, sendo que US$ 2 bilhões serão obtidos com redução de custos e US$ 1 bilhão mediante o aumento de receita. A primeira pisada no freio de Horton foi o corte de 13 mil funcionários do total de 80 mil.
Gerard Arpey, ex-ceo: o executivo deixou a American Airlines após o pedido de recuperação judicial.
Sob seu comando, uma dívida de US$ 29,6 bilhões.
Com isso, a empresa economizará US$ 1,25 bilhão em cinco anos. O plano consiste também em renegociar as dívidas e os contratos de leasing das aeronaves. Entre seus credores está o BNDES, a quem a AA ainda deve US$ 1,6 bilhão do total de US$ 3,5 bilhões obtidos para a compra de aproximadamente 200 aeronaves da Embraer entre 1998 e 2002. Uma das possibilidades é devolver algumas delas para quitar o valor. Parte da economia se deve justamente à renovação da frota. Em julho de 2011, a AA fez a maior encomenda da história do setor quando comprou 460 aeronaves da Boeing e da Airbus por US$ 13 bilhões. Os modelos Boeing 737 e Airbus 320 serão entregues entre 2013 e 2022 para substituir parte da frota de 900 aeronaves.
“Essa etapa é essencial para a economia de combustíveis e com custos de manutenção”, diz Horton. Horton tem larga experiência em reestruturações. Ele já trabalhou na empresa de telefonia AT&T, onde ficou por quatro anos. Ali, ajudou no processo de cisão da operadora em três empresas: celular, banda larga e telefonia fixa. Nessa época, foi preciso cortar custos. Agora sua experiência será colocada novamente à prova. Em meio a essa turbulência, o executivo aparenta tranquilidade. A receita: corridas matinais nos parques da cidade onde está. “Assim mantenho a calma”, diz Horton, que pretende correr sua quarta maratona de Nova York neste ano. Fôlego para esse novo desafio, pelo menos, não deverá faltar.
“Não vamos encolher”
Desde 29 de novembro do ano passado no comando da American Airlines, o americano Thomas W. Horton tem a difícil missão de revitalizar a companhia, que já foi a maior do mundo e hoje é a terceira. Confira trechos da entrevista concedida à DINHEIRO
Quais as principais medidas para tornar a American Airlines saudável novamente?
Vamos renegociar as dívidas, os contratos de leasing e trabalhistas para tornar a empresa mais eficiente. Inicialmente, isso vai implicar uma redução de 13 mil vagas. A renovação da frota também possibilitará obtermos economias em custos de combustível e manutenção das aeronaves. No final, é algo positivo para todos. Não vamos encolher.
Mas o corte de vagas já não é uma forma de encolhimento?
Na situação em que nos encontrávamos, todos os empregos corriam risco. Então, decidimos por esses cortes, que são naturais num processo de recuperação judicial e evita maiores perdas no futuro.
O sr. acredita que sua experiência na área de finanças facilitará nessa nova fase?
Sim, mas não quero apenas cortar. Claro que é necessário fazer ajustes, mas queremos crescer.
Outras companhias aéreas dos Estados Unidos, como Delta, US Airways, United e Continental, também passaram por recuperação judicial. Qual a diferença no caso da American Airlines?
Nossa reestruturação não vai encolher a companhia como aconteceu com as outras. Vamos ajustar as contas para continuar crescendo. A última década foi horrível para o setor com a alta dos preços do petróleo e o ataque terrorista do 11 de setembro, que envolveu duas de nossas aeronaves e nos prejudicou muito.
Recentemente, surgiram especulações sobre uma eventual venda da American Airlines para algum concorrente. Existe essa possibilidade?
Nosso plano é focar na reestruturação, o resto é especulação. Houve muita consolidação do setor nos Estados Unidos e ainda acho que há espaço para mais. Foi algo saudável porque o setor era muito fragmentado, mas não temos nenhum plano de fazer parte disso num futuro próximo.