Em 20 de julho de 1969, o mundo parou para assistir, ao vivo, a os astronautas Neil Armstrong, morto no sábado, 25 de agosto, e seu compatriota Buzz Aldrin, dar os primeiros passos na Lua. “Um pequeno passo para um homem, um salto gigante para a humanidade”, afirmou Armstrong, pouco antes de pisar no solo do satélite. Com isso, ele ratificava a vitória dos Estados Unidos frente ao seu maior rival na época, a extinta União Soviética, na corrida pela conquista do satélite natural da Terra. Para chegar à frente dos soviéticos, os americanos investiram mais de US$ 20 bilhões na época, o equivalente a US$ 125 bilhões em valores de hoje, durante oito anos, no projeto Apollo, comandado por sua agência espacial, a poderosa Nasa. 

 

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Mais de quatro décadas depois do desembarque do homem na Lua, a Nasa deu outra demonstração de sua incrível capacidade de desenvolver tecnologia. No começo de agosto, o robô Curiosity pousou na superfície de Marte. Sua missão é encontrar os primeiros sinais de vida fora da Terra. Na terça-feira 29, o mundo pôde assistir, ao vivo, às primeiras imagens transmitidas diretamente do planeta vermelho. O projeto, orçado em US$ 2,5 bilhões, recolocou a agência no centro das atenções e reacendeu a chama da exploração espacial no imaginário dos americanos. O presidente dos EUA, Barack Obama, que está comandando um duro corte de custos na agência espacial, telefonou para parabenizar o time de cientistas responsável pela façanha. 

 

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Cientistas da Nasa comemoram logo após o pouso do robô Curiosity,

em 6 de agosto, em solo marciano

 

“A expectativa é que isso abra novas portas e faça voltar o fluxo de investimentos do governo”, disse à DINHEIRO Nilton Rennó, cientista brasileiro da Universidade de Michigan, que há dez anos trabalha nos programas espaciais da Nasa. Apesar do entusiasmo do presidente americano, sua administração vem promovendo cortes sistemáticos no orçamento da Nasa. Em 2013, a agência deve contar com os mesmos recursos de 2009, pouco mais de US$ 17 bilhões. A verba para viagens espaciais vem minguando ano a ano. Ela cairá de US$ 1,6 bilhão, em 2011, para US$ 556 milhões neste ano. Em 2013, será de apenas US$ 70 milhões. 

 

Um indicativo da penúria a que está relegada a exploração espacial foi a aposentadoria do ônibus espacial Atlantis, que transportava os astronautas americanos para o espaço, que fez sua última viagem em julho do ano passado. Sem um veículo para chegar à Estação Espacial Internacional, os Estados Unidos passaram por uma situação constrangedora – e impensável nos anos 1960 e 1970: o astronauta Cady Coleman foi obrigado a pegar uma carona na espaçonave russa Soyuz meses depois para ir ao espaço. A tesoura de Obama no orçamento da Nasa reflete a nova política da Casa Branca para o programa espacial americano. Sai de cena o governo. Em seu lugar, entra a iniciativa privada. 

 

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Robô custou US$ 2,5 bilhões

 

Parte dos recursos da Nasa será usada para estimular a criação de empresas de transporte espacial. Três dias antes da chegada do Curiosity a Marte, a agência anunciou as companhias que receberão a terceira rodada de investimentos do projeto para desenvolver um novo ônibus espacial. A Boeing ficou com a maior parte dos recursos, US$ 460 milhões. A SpaceX, que em julho deste ano realizou a primeira missão privada para a Estação Espacial Internacional, receberá US$ 440 milhões. Outros US$ 220 milhões irão para a Sierra Nevada Corporation. “Muitos dos meus alunos trabalham na SpaceX”, afirma Rennó. “Isso incentiva os jovens a entrar na área científica.” 

 

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Nilton Rennó, da Nasa, espera que o governo volte a investir na agência

 

A dúvida é se o sucesso da missão do robô Curiosity não vai gerar no governo dos Estados Unidos o desejo de reviver os tempos dourados e românticos das primeiras viagens espaciais. O projeto para explorar o planeta vermelho, no entanto, é uma herança do governo do republicano George Bush. Apesar do entusiasmo inicial de Obama, que concorre a reeleição em novembro, a previsão é que a verba para o programa marciano caia de US$ 587 milhões neste ano para US$ 360 milhões, em 2013. Se nada mudar, essa deve ser mesmo a última vez que o mundo verá, ao vivo, uma transmissão de outro planeta feita pela Nasa.

 

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