Na primeira quinzena de dezembro, o executivo carioca Antonio Carlos Valente, presidente da Telefônica/Vivo, resolveu comprar um pendrive de 16 gigabytes. Sua primeira opção foi procurar o dispositivo de armazenamento na Saraiva, no BarraShopping, no Rio de Janeiro. Mas achou o produto caro. Na loja em frente, para sua sorte, havia a popular Casa & Vídeo, que oferecia um preço mais em conta. Para pagar, Valente enfrentou a tradicional fila. Mas, para sua surpresa, as indefectíveis prateleiras com doces, salgadinhos, pilhas e itens baratos que costumam ficar antes do caixa, estavam lotadas de celulares 3G, com preços, em sua imensa maioria, entre R$ 110 e R$ 129.

“Eram centenas de modelos”, afirmou Valente, escolhido o EMPREENDEDOR DO ANO NAS COMUNICAÇÕES em 2014. A experiência na loja de baixo custo mostrou a Valente o paradoxo do setor de telefonia. Ao mesmo tempo que precisa investir em redes modernas, como a 4G, não pode deixar de lado tecnologias que ainda são fundamentais para dar escala e volume às operadoras, como é o caso da 3G. Não por acaso, a Telefônica/Vivo está presente em 3.225 cidades com a rede de terceira geração, quase o dobro da segunda colocada, a Claro. Em 4G, que permite velocidades até 100 vezes mais rápidas, a empresa espanhola também lidera, com 127 localidades.

“Nos grandes municípios, todas as operadoras estão; nos médios, algumas estão, mas nos pequenos só a Vivo está”, diz Valente, um bordão que repete sempre que possível. “Queremos ser a solução para acesso à internet para a população brasileira.” Essa meta ficou ainda mais próxima com a aquisição da empresa de telefonia GVT, do grupo francês Vivendi, por € 7,45 bilhões (aproximadamente R$ 25 bilhões), em agosto deste ano. O negócio, que ainda precisa de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), recoloca a empresa na liderança do setor de telefonia brasileiro em receita e número de assinantes, posto que havia perdido para os mexicanos da América Móvil, dona da Embratel, Claro e NET, no primeiro semestre deste ano.

Mais: com os ativos da GVT, a Telefônica/Vivo passa a deter uma rede de telefonia fixa, de banda larga e de tevê por assinatura em escala nacional. Com exceção da área de celulares, os espanhóis atuavam exclusivamente em São Paulo com os outros serviços. “A GVT complementa muito bem a rede da Vivo, pois em sua maior parte está fora de São Paulo”, afirma laconicamente Valente, que não pode comentar o assunto em razão do processo de aprovação pelos órgãos reguladores. Não é a primeira vez que a Telefônica tenta comprar a GVT. Em 2009, a companhia disputou a empresa fundada pelo israelense Amos Genish com o grupo francês Vivendi.

Na ocasião, Valente perdeu a batalha. O revés, no entanto, não afetou sua imagem perante os comandantes espanhóis. Tanto que no processo de união da Telefônica com a Vivo ele foi escolhido para comandar a fusão. Engenheiro por formação, Valente está no grupo Telefônica desde 2003. No início de 2007, assumiu a presidência da operação brasileira, posição que mantém até hoje. Antes, o executivo teve extensa carreira na Telebras, holding estatal que comandava as telecomunicações no Brasil antes da privatização do setor, em 1998. Valente foi também vice-presidente da Anatel, na década passada. Por essa razão, circula com desenvoltura pelos gabinetes de Brasília. Para um setor cuja regulação pública ainda é muito forte, essa é uma qualidade que poucos executivos do setor ostentam.

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Leia o Especial “Empreendedores do ano 2014”:

Quinteto inspirador
José Luís Cutrale
Frederico Curado
André Esteves
Artur Grynbaum