Pouco conhecido fora de Goiás, o grupo Coral presta serviços terceirizados, como segurança e limpeza, para escritórios. Já chegou a empregar sete mil pessoas e ter uma carteira de dois mil clientes. A receita estimada para 2012 é de R$ 101,7 milhões. No entanto, seu endividamento de R$ 65 milhões o fez pedir recuperação judicial no fim do ano passado. Má notícia para os credores, e pior ainda para os investidores do Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), que comprava títulos a ser pagos pelo Coral. Uma decisão judicial bloqueou os pagamentos e fez as cotas do fundo amargarem uma perda superior a 40% no dia 5 de abril. No mês, o prejuízo é de 63,9%, e uma recuperação desse solavanco depende do Judiciário, diz José Antonio Pinto, da gestora paulista Aggrega, que administra o fundo. 

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O caso do FIDC do Coral é isolado, mas serve de alerta. A persistente queda dos juros vem estimulando uma migração de recursos nas aplicações de renda fixa. Saem de cena os fundos mais conservadores e quem brilha, agora, são alternativas mais rentáveis, como, por exemplo, os FIDC. Não por acaso, a emissão dessas carteiras atingiu R$ 1,78 bilhão até meados de abril, um crescimento de 15% em relação ao mesmo período do ano passado. Esses fundos chegam a proporcionar prêmios anuais de dois pontos percentuais em relação aos juros de mercado. Essa rentabilidade mais apetitosa, porém, vem acompanhada de um indigesto aumento do risco. A principal característica dos FIDCs é ter, no mínimo, 50% de seu patrimônio líquido constituído por direitos creditórios, como notas promissórias, faturas de cartão de crédito e cheques pré-datados. 

 

Qualquer inadimplência afeta diretamente o bolso do cotista. Parte desse risco é mitigada pela estrutura do fundo, que reserva um percentual dos recursos para esses problemas. Mas quando os prejuízos são grandes demais, mesmo essa proteção é insuficiente. Como evitar surpresas desagradáveis sem ter de abrir mão da atraente rentabilidade das carteiras de recebíveis? Nos fundos tradicionais, é possível tomar uma boa decisão de investimento observando o histórico de rentabilidade e as oscilações das cotas. No caso dos FIDCs, mais importante do que isso é analisar a composição da carteira. “Os ativos em que esses fundos investem não são negociados em bolsa nem são líquidos”, diz Ricardo Torres, professor de finanças da Brazilian Business School (BBS). 

 

Por isso, afirma, a melhor forma de evitar grandes surpresas é investir em produtos cujos recebíveis são diversificados. Outra recomendação é observar cuidadosamente as regras de investimento. Os FIDCs podem ter diversas estruturas. “A leitura do estatuto informa se o fundo permite resgates imediatos ou se há carência”, diz Torres. Outra forma de evitar sustos é prestar atenção na classificação de risco, também chamada de rating, que é emitida por uma agência especializada. De acordo com ele, muitos FIDCs funcionam como uma poupança com rentabilidade excepcional. “São fundos abertos e sem data marcada para terminar. Se forem bem administrados, oferecem bons rendimentos”, diz Torres. Muitas vezes, esse tipo de fundo pode ter data para acabar, como é o caso do Credipar I, administrado pelo BNY Mellon. 

 

Quem examina apenas para rentabilidade momentânea deste FIDC pode se assustar. Em abril, a cota caiu 16,99%. No entanto, esse fato foi comemorado pelos cotistas. “A rentabilidade caiu porque pagamos juros aos investidores”, diz Alberto Elias, diretor de serviços financeiros do BNY Mellon. Segundo ele, o fundo se encerra em setembro e a queda das cotas indica o cumprimento à risca do cronograma de pagamentos aos investidores. “Esse fundo paga juros medidos pelo CDI mais um prêmio de 3% ao ano”, diz Elias. Não é possível prorrogar o fundo, que é lastreado no CDC do Negresco S.A, empresa curitibana especializada em financiamento e de administração de crédito no varejo. “O que podemos pensar é em fazer um novo fundo, com a mesma estratégia.”

 

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