03/08/2011 - 21:00
O bilionário espanhol Amancio Ortega, fundador da cadeia varejista Zara, um gigante que fatura € 8 bilhões por ano, é conhecido como uma pessoa discreta. Avesso a badalações sociais e ao contato com a mídia, ele possuía hábitos até certo ponto inusitados em seu dia a dia profissional. Mesmo com a agenda lotada, gostava de circular, por exemplo, pelas imediações de shows de rock, em Tóquio, e de caminhar em um bairro punk de Londres. Incursões desse tipo ajudaram Ortega a encontrar inspiração para manter seu negócio plugado nas tendências que fazem a cabeça do consumidor.
“Um de seus grandes trunfos é ser um garimpeiro de tipos de comportamento”, diz um empresário próximo ao magnata espanhol. A partir de agora, no entanto, o ritmo de viagens – pelo menos com esse objetivo – deverá diminuir. Aos 75 anos de idade, Ortega anunciou sua aposentadoria. Agora, sobrará mais tempo para cuidar de seus cavalos, um dos hobbies que ele possui. Desde 21 de julho, quem está à frente do grupo Inditex, controlador da Zara, é o advogado Pablo Isla, até então o segundo no comando do grupo.
Dono de uma fortuna pessoal de US$ 31 bilhões, Ortega inscreveu seu nome no mundo do varejo de moda com a idealização do fast fashion. Trata-se de uma técnica comercial cujo pilar é a troca constante das coleções. Esse modelo inspirou as brasileiras Riachuelo e Renner, além da holandesa C&A. Em vez de investir pesadamente em marketing, a Zara gasta os recursos em infraestrutura. “Ele prefere investir em lojas bonitas e bem localizadas, na produção e na distribuição”, diz André Robic, diretor do Instituto Brasileiro de Moda. É uma característica do negócio desde a década de 70.
Mas a trajetória de Ortega começou antes. Em 1963, aos 27 anos, ele vislumbrou que um negócio que aliasse todas as etapas do processo, da produção ao varejo, sob gestão única, poderia ser mais rentável. “Enquanto o varejo integrado, cujo ícone é a Zara, tem margens de 20%, a americana GAP, que representa o tradicional, fica na casa dos 8%”, diz Flávio Rocha, controlador da Riachuelo. Inspirada pela Zara, a rede brasileira concluirá seu processo de integração em 2012.