28/09/2013 - 7:00
A cena acontece em Santiago, no Chile. Durante uma entrevista de emprego, os candidatos ficam aterrorizados ao observarem pela janela um meteoro destruir a capital chilena. Eles correm, gritam e se jogam ao chão da sala, sem luz após a explosão. Engraçada, a cena era, na verdade, uma pegadinha da subsidiária chilena da companhia coreana da LG para divulgar seu aparelho de televisão com tecnologia 4K de altíssima definição. A simulação fazia parte da campanha “Tão real que assusta”, produzida pela companhia coreana – outro episódio mostra o chão de um elevador se despedaçar, dando a sensação de que os ocupantes cairão no poço.
A gregos e romanos: segundo Paschoal, diretor da Sony, qualidade
do 4K não é benefício de nicho, como o 3D
Com esse tipo de expediente, a LG enfatiza de forma bem humorada a principal característica das tevês 4K. São imagens com profundidade, clareza e nitidez que impressionam – ou assustam, como no caso dessa pegadinha. Em números, as tevês de altíssima definição têm resolução quatro vezes maior do que as HD. Mesmo olhando de perto, a imagem não perde a nitidez, como ocorre até com as tevês Full HD. Por ser novidade, o preço não segue a mesma relação. O menor aparelho, com tela de 55 polegadas, chega a custar R$ 15 mil. Os mais sofisticados, de 80 polegadas, equivalem a um carro de luxo: mais de R$ 100 mil. “Como toda nova tecnologia, os preços iniciais são altos”, diz Carlos Paschoal, diretor de marketing da japonesa Sony no Brasil. “Mas a tendência é baixar.”
Tanto que as tevês 4k são a principal aposta das fabricantes de televisores para atrair consumidores ávidos por novidades e tecnologias avançadas. A LG e sua compatriota Samsung, a taiwanesa Envision, que assumiu a marca Philips, e a Sony já contam com modelos à venda no mercado brasileiro e devem intensificar os lançamentos nos próximos meses. A razão para tanta pressa é fácil de ser entendida. As vendas de tevês sempre aumentam em ano de Copa do Mundo de Futebol. Em 2010, quando o campeonato de seleções foi disputado na África do Sul, o crescimento foi de 36,5%, a mais alta taxa de expansão em seis anos no mercado brasileiro. A expectativa é que sejam vendidos mais de 15 milhões de televisores em 2014, o que significaria uma alta de mais de 10% sobre o previsto para este ano, de acordo com a Eletros, entidade que representa os fabricantes.
Desta vez, as empresas querem evitar o que aconteceu com as tevês 3D. A tecnologia tridimensional foi o grande chamariz de vendas de 2010, mas a falta de conteúdo fez as vendas despencarem depois do boom inicial – hoje elas representam 10% das vendas dos televisores no Brasil. “Elas nunca conseguiram decolar”, afirma Lourival Kiçula, presidente da Eletros. Os poucos produtos de conteúdo sentiram na pele a falta de interesse dos consumidores. A estatal britânica BBC, por exemplo, fechou em julho seu canal 3D, seguindo o exemplo da americana ESPN, que desistiu da transmissão 3D de um de seus canais pagos nos Estados Unidos. “O 3D é um produto de nicho”, diz Paschoal. “Já o 4K tem qualidade superior. Todos gostam de qualidade.”
A estratégia dos fabricantes é evitar que a carência de conteúdo em altíssima definição se transforme numa barreira para as vendas. Para isso, desenvolveram uma tecnologia batizada de “upscaling”, que transforma uma imagem Full HD em 4K. A qualidade não é a mesma que se obteria caso o material fosse gravado originalmente para 4k, mas é capaz de enganar os olhos mais desatentos. “Quem vê uma imagem Full HP com upscaling já sente muita diferença em relação à tradicional”, diz André Romanon, gerente de marketing de produtos da Envision/Philips. Nessa etapa inicial, essa tecnologia será a única maneira de ver uma imagem mais nítida. “A indústria deve sair na frente”, afirma Roberto Barboza, diretor de produtos da LG. “As empresas de conteúdo só começam a produzir quando há mercado.”