23/01/2015 - 20:00
Foram quase cinco horas de uma tensa assembleia geral, na quinta-feira 22, em Lisboa. Depois de acalorados discursos de representantes dos minoritários da PT SGPS e protestos de sindicalistas, que queriam adiar a própria reunião, a venda dos ativos da Portugal Telecom (PT) por € 7,4 bilhões (aproximadamente R$ 23 bilhões) à francesa Altice foi, enfim, aprovada por 97,81% dos acionistas da holding portuguesa, uma das controladoras da Oi, terceiro principal grupo de telecomunicações do Brasil. No fim da reunião, o presidente da Oi, Bayard Gontijo, que estava presente ao encontro, resumiu seu sentimento de alívio com a conclusão do negócio.
“É o melhor para as duas empresas e para reduzir a alavancagem da Oi”, disse Gontijo. É fácil entender o alívio de Gontijo. Com uma dívida líquida de R$ 48 bilhões, que representa 4,7 vezes a sua capacidade de geração de caixa, a operadora de telefonia brasileira consegue tirar a corda do pescoço com a injeção de capital de R$ 23 bilhões que receberá com a venda da PT. É dinheiro suficiente para acabar com a letargia da Oi, que encolheu em quase todos os setores em que atua, nos últimos anos. Em telefonia fixa, por exemplo, ela detinha mais de 50% do mercado em 2009.
Hoje, conta com 36,8%. Em celulares, a operadora já teve quase 21% de participação. Atualmente, sua fatia está um pouco acima de 18%. Só em TV por assinatura houve crescimento, mesmo assim mantendo uma longínqua terceira posição, atrás das líderes NET/Embratel e Sky. A venda dos ativos da PT, no entanto, está longe de resolver todos os problemas da Oi, um gigantesco condomínio de acionistas que conta com participação da AG Telecom, do grupo Andrade Gutierrez, LaFonte, da família Jereissati, BNDES, fundos de pensão, BTG Pactual e PT SGPS, esta última dona de 25,6%.
“A Oi terá de decidir o que quer ser”, afirma uma fonte ligada ao conselho da operadora brasileira. “Ela pode pagar as dívidas e sacrificar seu crescimento ou ser um ator importante no processo de consolidação do setor de telefonia.” Em um comunicado, a Oi ratificou que a venda da PT habilita a operadora a exercer o protagonismo no processo de consolidação do setor de telefonia brasileira, no qual a TIM, da Telecom Italia, é o alvo imediato. Segundo um executivo que conhece profundamente o setor de telecomunicações, a companhia deveria focar na resolução de seus problemas operacionais.
“Nos últimos tempos, a qualidade caiu muito”, diz essa fonte, que prefere não se identificar. “Ela precisa primeiro arrumar a casa, antes de pensar em uma fusão com a TIM.” DINHEIRO apurou que Oi e TIM ficaram próximas de um acordo de fusão, no ano passado. A união só não aconteceu, de acordo com uma fonte próxima a Telecom Italia, por dois motivos. O primeiro deles foi o preço. E o segundo é que a operadora italiana, comandada pelo executivo Marco Patuano, queria ser majoritária na nova tele. “Na situação em que a Oi se encontra é sonhar muito grande querer ser protagonista do processo de consolidação”, afirma essa fonte.
No momento, as duas operadoras estão com as negociações paralisadas, mas as conversas devem ser retomadas. O BTG Pactual foi contratado pela Oi, no ano passado, para estruturar uma oferta para a TIM. Por mais que fosse vital para a Oi, a venda dos ativos da PT significa um fim melancólico do projeto de criar uma multinacional de telecomunicações de língua portuguesa.
Em setembro de 2013, quando a Oi e a Portugal Telecom anunciaram seus planos de fusão, a supertele contabilizava mais de 100 milhões de clientes no Brasil, na Europa, África e Ásia. As sinergias estimadas com a união seriam de R$ 5,5 bilhões. Mas pouca coisa deu certo desde então. O Banco Espírito Santo, principal acionista da holding PT SGPS, faliu e levou consigo seus patrícios. Agora, é vida que segue. A Oi, operando exclusivamente no Brasil. E a PT, na terrinha, mas sob o comando dos franceses da Altice.